Retrato de um poeta
por Lucas SalgadoAndrucha Waddington é um dos mais respeitados cineastas brasileiros da atualidade. Apesar de não ter uma larga filmografia, o diretor tem o mérito de sempre manter um bom nível em suas produções, seja em dramas como Eu Tu Eles e Casa de Areia, seja em documentários como Outros (Doces) Bárbaros e Maria Bethânia - Pedrinha de Aruanda. Agora, em Lope, repete o bom desempenho, com a diferença de se tratar de um filme estrangeiro.
Um dos sócios da Conspiração Filmes e marido da atriz Fernanda Torres (Saneamento básico, o filme), Waddington não inova na direção do longa, mas também não atrapalha, sempre optando por um plano convencional.
Lope conta a história do espanhol Lope de Vega, um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, e o início de sua trajetória. Além de amado por suas obras, Lope era um galanteador de marca maior, tendo vários relacionamentos amorosos e causando polêmica em sua época.
O argentino Alberto Ammann é o responsável por viver o dramaturgo e poeta e o faz com brilhantismo. A atuação de Ammann é o grande ponto positivo do longa e principal responsável por tirar o mesmo do lugar comum.
Leonor Watling, Sonia Braga, Antonio de la Torre, Luis Tosar e Pilar López de Ayala completam o elenco da produção e também se saem bem. O mesmo não se pode falar de Selton Mello. O ator de Meu nome não é Johnny e O cheiro do ralo não vai nada bem atuando em espanhol. A grande maioria de suas falas acabam soando artificiais e sem profundidade.
Com boa direção de fotografia de Ricardo Della Rosa, que faz um trabalho infinitamente superior ao que desempenhou em Olga, Lope é um deslumbre técnico e estético. O figurino, a direção de arte, a maquiagem, tudo é digno de destaque. O problema é que falha no mais importante, que é o desenvolvimento do roteiro. O romance entre de Vega e Elena Osorio em momento algum convence o espectador, sendo difícil, assim, justificar toda a luta do personagem.
Lembrando um pouco o drama O Amor nos Tempos do Cólera, de Mike Newell, Lope apresenta uma boa trilha sonora composta por Fernando Velázquez, que já havia feito bonito ao compor para O Orfanato.
A produção é bem sucedida ao apresentar Lope àqueles que não o conheciam, mas também está longe de ser uma cinebiografia aprofundada sobre o dramaturgo. Trata-se de um retrato do poeta que está um pouco embaçado, mas que continua sendo um retrato.