UNIÃO & SEPARAÇÃO
por Roberto CunhaA força da amizade e da lealdade já foi abordada de diversas formas em filmes, e o assunto faz parte da vida também de maneira variada. Cavalo de Guerra explora esse tema, galopando forte pela fantasia e transformando essa adaptação de um livro homônimo de 1982 numa verdadeira fábula cinematográfica.
Na história que começa no início do século passado, Albert (Jeremy Irvine) pertence a uma família humilde, que sofre com a fazenda em crise. Para melhorar a produtividade na plantação, seu pai (Peter Mullan) compra um cavalo inadequado para o trabalho, mas o filho se encanta por ele, o batiza de Joey e estabelece uma "conexão" impressionante. A única coisa que eles não imaginavam era que a 1ª Guerra Mundial iria separá-los, fazendo com que o animal vivesse uma longa e emocionante jornada nos campos de batalha.
Dirigido por Steven Spielberg, a marca do cineasta está evidente nas imagens do sol, na existência de crianças/adolescentes em situação de perigo e na própria guerra, já retratada anteriormente. Considerado por muitos como um dos "magos" da sétima arte, sua magia só aumenta com a longínqua e duradoura parceria com John Williams, compositor de inúmeros sucessos como Tubarão, E.T., o Extra-Terrestre e Guerra nas Estrelas, esse de George Lucas.
Prepare-se então porque as imagens, músicas e diálogos conspiram o tempo todo com o claro objetivo de fazer a emoção aflorar. Repleto de cenas grandiosas antes e durante a guerra (com pouco sangue), não faltarão também aquelas menores, mas igualmente grandes, como o close de um arado sulcando a terra tracionado pelo belíssimo exemplar de equino.
Deixando a porta aberta para um possível reencontro, o roteiro semeia a dor da separação entre o dono e o animal de estimação, uma vez que Joey terá novos donos, mas também cultiva essa dor existente na relação entre humanos, sejam eles irmãos, amigos ou um avô com a netinha. Isso faz com que a trama possa ser encarada como bem apelativa, abusando dos revéses (chuva torrencial ou um providencial leilão) e mantendo o foco numa possível colheita de lágrimas. Apesar de ser possível também trotar num leve humor, interessante em alguns momentos.
Vale lembrar que é um produto DreamWorks/Disney, o que explica cenas que soarão bobinhas. Dessa forma, dá para aceitar a "comunicação" de humanos com bichos e animais entre si, mas não dá para dizer o mesmo de um dispensável ganso linha dura, fazendo graça. Quem procurar clichês, vai encontrar, entre outros, na fitinha que acompanha Joey, no arame farpado (coroa de espinhos bíblica) e na "abertura do mar" de gente em um reencontro, mas eles funcionam.
Assim, é perfeitamente possível afirmar que Cavalo de Guerra é filme de linhagem emotiva, daqueles encilhados para receber indicações, prêmios e que costumam fazer sucesso junto a uma boa parcela do público com a cocheira sempre aberta para este gênero. E o desempenho poderia ter sido bom se já tivesse largado no período do Natal, exatamente por conter essa mensagem de separação e união.