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    Dezesseis Luas
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Dezesseis Luas

    Fórmula melhorada

    por Francisco Russo

    Pegue um típico romance adolescente, daqueles impulsionados pela descoberta do primeiro amor. Misture com uma boa dose de seres com algum tipo de poder, de preferência que sejam bastante populares no imaginário coletivo. Salpique um conflito que impeça (ou ao menos atrapalhe) que o amor do casal protagonista floresça, utilizando características dos tais seres extraordinários. Capriche no romantismo, incluindo cenas em que a paixão possa ser demonstrada não apenas em imagens - sem sexo! -, mas também em palavras. Se você pensou em Crepúsculo, esqueça! A série criada pela autora Stephenie Meyer já é passado no histórico hollywoodiano, o que não significa que seu impacto não tenha deixado marcas. Goste-se ou não, todos os filmes da saga Crepúsculo foram um tremendo sucesso de público e algo deste porte deixa rastros. Dezesseis Luas é um deles.

    Pode-se dizer que, sem Crepúsculo, provavelmente Dezesseis Luas não existiria. Toda a descrição acima pode ser enquadrada também à adaptação do primeiro livro da quadrilogia escrita pela dupla Kami Garcia e Margaret Stohl, tamanha é a semelhança entre os dois filmes. Entretanto, é importante ressaltar: Dezesseis Luas não é Crepúsculo, apesar de partirem da mesma base e serem voltados ao mesmo público. Há diferenças consideráveis entre eles.

    A primeira delas é que, apesar de não ter personagens tão icônicos, Dezesseis Luas é bem melhor atuado. A começar pela presença de um elenco já rodado, com várias indicações ao Oscar – e algumas estatuetas – no currículo. Jeremy Irons, Viola Davis e, principalmente, Emma Thompson dão um certo lastro de qualidade ao filme, não deixando todo o peso a cargo dos jovens Alden Ehrenreich e Alice Englert. Entretanto, mesmo o casal protagonista dá conta do recado. Ehrenreich, que despontou muito bem no pouco visto Tetro, dá ao seu Ethan Wate a vivacidade e curiosidade necessárias a alguém que deseja saber mais da vida além do que ela já lhe oferece. Sim, pois é a partir desta inquietação pessoal que nasce a aproximação entre ele e Lena. Charmoso, Alden segura com competência o personagem e sustenta em boa parte das cenas o romance adolescente. A Alice Englert cabe mais transparecer as dúvidas e anseios de sua personagem, em uma atuação correta onde acaba se destacando mais através do olhar.

    A segunda diferença surge no modo como se desenvolve a aproximação do casal protagonista. Ao invés do romantismo exacerbado, aqui eles se apaixonam debochando um do outro. Com diálogos divertidos, Ethan e Lena vivem trocando provocações mútuas que trazem interesses ocultos nas entrelinhas. É claro que o filme também tem cenas e falas onde o romantismo escorre pela telona, mas este é mais moderado em cena. Da mesma forma, o filme conta com um punhado de sequências onde há, nitidamente, uma insinuação sexual embutida, mas jamais explícita. Afinal de contas, relembremos que esta é uma das regras básicas da fórmula aplicada – ao menos no primeiro filme da série.

    Entretanto, a mais importante diferença entre Crepúsculo e Dezesseis Luas surge na natureza do romance. Se Bella Swan se apaixonava perdidamente por Edward Cullen, aqui o amor existente entre Ethan e Lena é algo que estava previsto pelo destino. O que levanta uma interessante questão sobre até que ponto este relacionamento é, de fato, verdadeiro, já que não há livre arbítrio envolvido. Este tema não chega a ser abordado com clareza em Dezesseis Luas, mas é aberta uma porta para ser tratado em – possíveis – novos filmes.

    De resto, Dezesseis Luas segue o mesmo ritual explorado à exaustão pela saga Crepúsculo, só que com uma inversão de gênero – aqui, ele é o mortal. O casal se apaixona, ele descobre os poderes e problemas da família dela, apostam na força do amor para enfrentar os percalços que surgem. Nada realmente novo, apenas melhor acabado. Apesar de ser um pouco longo demais – os 124 minutos cansam, especialmente na segunda metade -, o filme traz algumas situações de pano de fundo interessantes. Uma delas é o fanatismo religioso seguido sob cabresto por quase toda a população de Gatlin e um certo desprezo por eles demonstrado por Ethan.

    Seguindo a fórmula estabelecida por Crepúsculo, Dezesseis Luas é uma pedida e tanto para quem curtiu as aventuras de Bella, Edward e Jacob ao longo de quatro anos. Para quem torce o nariz, fica o aviso de que o filme ao menos é melhor atuado e produzido – especialmente se comparado ao primeiro filme da saga vampiresca. Destaque para as várias citações, literárias e cinematográficas, que surgem no decorrer do filme. Para quem curte um ou outro, é um detalhe que diverte.

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