"Selma - uma luta pela igualdade" é uma boa ideia com execução frustrante. Tão interessante quanto uma possível cinebiografia de Martin Luther King é fazer um recorte de um dos episódios da sua curta, porém densa, trajetória. O filme optou pela segunda alternativa, destacando a marcha de Selma para Montgomery (Alabama), protestando pela concretização do direito (garantido apenas na teoria, não efetivado na prática) ao voto para os afrodescendentes (fato que motivou a marcha). Um roteiro interessante, com potencial, mas com muitos erros técnicos.
A começar pelo roteiro em si, que, enclausurado na boa ideia, não tem o condão de emocionar verdadeiramente. Restou apenas o potencial - exceção honrosa para uma das cenas do início, surpreendente e chocante, ótimo ponto de partida. O roteiro ruim foi mal dirigido: a opção pelo formato de quase documentário tornou o filme burocrático (inclusive pelo exagero) e, apesar do ritmo louvável (acelerado, mas, desta vez, sem exagero), também não teve êxito em comover. A comoção restou pregada na ideia e nos princípios do "Doc", não no filme em si. Da mesma forma, a reflexão.
Nem mesmo a atuação salva "Selma". David Oyelowo até agora não convenceu em suas interpretações. Desta vez, o papel que lhe foi atribuído tinha potencial para, no mínimo, indicações a grandes prêmios. Mas não, Oyelowo é um protagonista bastante discreto - de tão discreto, a superficialidade da atuação se destaca e compromete todo o filme. Dos "coadjuvantes principais", nenhum se salva. Destaque de atuação mesmo são Oprah Winfrey e Cuba Gooding Jr., com personagens "coadjuvantes acessórios", de participação diminuta (do ponto de vista temporal), mas excelência que salta aos olhos. Isto é, diante da incompetência geral do elenco, Winfrey e Gooding Jr. são um colírio. Nem mesmo o experiente Tom Wilkinson se salva.
A indicação ao Oscar de melhor filme refere-se, de forma explícita, à boa ideia. Tanto é assim que a única outra indicação refere-se à estatueta de melhor canção original ("Glory"), que o filme deve ganhar. Nenhuma indicação por atuação, direção ou premiações técnicas (fotografia, edição, mixagem de som etc.). "Apenas" melhor filme. É isso que deixa explícito o que retratei: tecnicamente, "Selma" é paupérrimo, não faz jus ao legado da grande figura histórica que é Martin Luther King. Por outro lado, não há dúvida que invocar seus ideais e sua luta merecem crédito imensurável e mesmo destaque necessário, o que justifica a indicação (que não vai ganhar) a melhor filme. O filme é tecnicamente fraco - mas atenção: não chega a ser ruim, longe disso, tem seus atrativos, em especial do ponto de vista histórico (interessante visualizar um pouco da luta pelos direitos). Contudo, MLK merece a "homenagem".