Crítica de menos
por Francisco RussoAo longo de sua carreira, Ken Loach ficou marcado pelo forte tom de crítica em seus filmes. Seja através de questões sociais que atingiam os desfavorecidos (Pão e Rosas), o capitalismo (Mundo Livre), a religião (Apenas um Beijo) ou até mesmo a incoerência dos Estados Unidos diante dos ataques terroristas de 2001 (11 de Setembro). O que mais surpreende em Rota Irlandesa é que, tendo em mãos um tema altamente explosivo, a guerra no Iraque, o diretor tenha optado por ser moderado em sua abordagem.
Não que o assunto passe em brancas nuvens. Há algumas críticas, bem de leve, especialmente através dos vídeos exibidos, feitos no Iraque, que revelam os maus tratos cometidos pelo exército americano. Há também a constatação do uso de mercenários pelas forças norte americanas, mesmo que este procedimento não gere grandes conseqüências na trama. Só que Loach, estranhamente, não está muito interessado nisto. Ou, talvez, não pôde estar.
A impressão é que o veterano diretor não teve a quantia necessária para o orçamento do filme. Isto explicaria a opção por realizar a investigação de uma morte ocorrida no Iraque na... Inglaterra! Sim, é isto mesmo. Quando Fergus decide investigar o que realmente aconteceu na morte de seu colega Frankie, ele não pega o avião e vai lá ele próprio investigar. Fergus permanece em seu país e, através de telefonemas e chats via internet, desvenda a história.
É claro que esta atitude tem justificativa dentro da trama. Mas é algo tão frágil, tão descartável, que deixa dúvidas se foi este o verdadeiro motivo de tal iniciativa. Mas pode ser que Loach realmente não tenha se interessado, desta vez, em provocar. Caso seja esta a possibilidade, Rota Irlandesa torna-se um filme ainda mais decepcionante por trazer, apenas, uma história banal. Razoável.