Franquias juvenis adaptadas da literatura para o cinema podem ser um bom negócio. Podem ser. No ano de 2001 fomos apresentados ao universo mágico (literalmente) de Harry Potter em que a plateia, por meio de oito filmes muito bem-sucedidos, cresceu junto com os personagens da saga, acompanhando seus destinos ao longo de uma década. A partir de 2008, adolescentes do mundo inteiro se encantaram com as desventuras amorosas e conflitos juvenis envolvendo humanos, vampiros e lobisomens nos cinco longas da saga Crepúsculo que, apesar do êxito comercial, dividiu opiniões quanto ao comprometimento e seriedade (ou a falta dela) na adaptação. Ano passado o primeiro filme da série Jogos Vorazes encheu as telas de vigor e energia com a saga futurista protagonizada pela oscarizada Jennifer Lawrence, cujo aguardado segundo capítulo deve estrear em novembro deste ano. Muitas outras obras teen, no entanto, têm sido adaptadas para as telonas, obtendo resultados medianos, e a sensação que fica é a de que os produtores continuam incansavelmente sua busca por aquele que poderá vir a ser o novo “Harry Potter” ou o novo “Crepúsculo”. Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos, adaptado do livro de Cassandra Clare, o primeiro de uma série de seis, é a aposta da vez.
Dirigido por Harald Zwart, o mesmo do remake de Karate Kid (2010), o filme inicia com a jovem Clary (Lily Collins, filha do hoje ‘aposentado’ cantor Phil Collins) e seu amigo Simon (Robert Sheehan), em mais uma noite de baladas pela cidade. É quando Clary conhece, de maneira muito inusitada, o misterioso Jace (Jamie Campbell Bower), que se revela ser um Caçador de Sombras, uma classe de seres que combate demônios encarnados na Terra. As revelações só começaram. A garota descobre que sua mãe, Jocelyn (Lena Headey) também é uma caçadora. E mais, ela própria faz parte da ‘linhagem’. O inusitado desaparecimento da mãe de Clary depois do brutal arrombamento de sua casa confirma a veracidade das informações a princípio tão absurdas, mas que vão começando a fazer sentido diante dos fatos presenciados. Clary e Simon se veem então no meio de uma verdadeira guerra, da qual eles passam a fazer parte, mesmo que involuntariamente.
Diversos outros personagens importantes para a trama vão se revelando ao longo da projeção, e fica clara a intenção de desenvolvê-los nas pretensas continuações, pois este primeiro capítulo prioriza a contextualização de seu complexo universo, povoado por (claro) vampiros, lobisomens e bruxas. Ainda assim há espaço para rápidas menções ao tema da homossexualidade, bem como intrigas juvenis que incluem triângulos amorosos, atração e rejeição, amizade e confiança.
Quanto às ‘referências’, impossível não lembrar de “Harry Potter” quando Jace nos faz saber que os caçadores chamam os humanos de “mundanos”, a exemplo dos personagens da ‘outra saga’, para os quais os não-bruxos eram carinhosamente chamados de “trouxas”. E há uma cena que praticamente reproduz um momento decisivo do primeiro episódio da “Saga Crepúsculo” em que Bella está deitada e Edward, ao seu lado, segura seu braço. O diálogo entre Clary e Jace neste momento é tão hilário que poderia estar em qualquer paródia no melhor estilo “Todo Mundo Em Pânico”.
O tom predominante, no entanto, faz jus à proposta da série, com doses equilibradas de romance, ação e pitadas de terror temperadas com humor, com foco, claro, nas sequências que permitirão expandir com calma cada um destes itens. O carisma que o jovem elenco despertará (ou não) junto a seu público também é outro fator fundamental para a longevidade da saga no cinema. É claro que a tendência é vermos personagens melhor desenvolvidos e atores mais seguros em seus papéis, mas, a julgar por este primeiro exemplar, as adaptações literárias juvenis para o cinema continuarão sendo um bom negócio.
Roberto Oliveira