Sempre entendi que Cannes é um festival que olha muito mais para o lado artístico do que o Oscar, que por sua vez, é uma das maiores premiações do mundo do cinema, porém só tem olhos para o mercado americano, o que, de uma certa forma o limita. Cannes em 2012 premiou e mostrou para o mundo obras mundiais que valeriam oscars, e muita atenção, este é o caso de “Ferrugem e Osso” (De rouille et d’os ou Rust and Bone).
O filme competiu pela Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2012 assim como também foi indicado ao SAG Awards e recebeu duas indicações ao Globo de Ouro, duas indicações ao BAFTA e nove indicações ao César, vencendo quatro. Ou seja, o filme focou em premiações mais artísticas, e ganhou notoriedade por isso. Talvez, não tenha entrado na seleção de melhor filme estrangeiro, por ser francês, e consequentemente estar concorrendo com Intocáveis e Amor, mas de qualquer forma, é um filme que merece elogios e que não fica atrás destes 2.
“Ferrugem e Osso” se passa no norte da França, quando um rapaz, Ali, com seu filho pequeno, resolvem se mudar para tentar melhorar de vida. Ali é boxeador e vai morar com a irmã. Ele decide começar a trabalhar como segurança e vigia noturno para juntar uma grana. Em um destes trabalhos ele conhece Stephanie, uma jovem revoltada e até um pouco infeliz que Ali acaba ajudando após uma briga na boate onde ele trabalha. Após ajuda-la, Ali deixa um cartão com a moça e se dispõe a ajuda-la quando precisar, pouco tempo depois, Stephanie, que é treinadora de baleias, sofre um acidente de trabalho e acaba perdendo as 2 pernas. Confusa, perdida, solitária, triste e depressiva, ela resolve ligar para o segurança afim de conversar e tentar melhorar, é aí que surge um relacionamento que muda a vida dos dois.
O filme não tem muitos rostos conhecidos do grande público, mas podemos ressaltar a bela Marion Cotillard, que trabalhou recentemente em “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” e também em “Contágio”. Ou seja, atriz francesa que já mostrou bem seu talento em Hollywood. Porém em “Ferrugem e Osso”, Marion mostra seu talento, sua arte. Se em alguns filmes americanos, vemos atores muito bons serem pouco aproveitados por serem estrangeiros (caso do Rodrigo Santoro), em uma produção “nacional” o ator recebe linhas do roteiro que privilegiam seu talento, e sem dúvida, este é o caso de Marion aqui. A atriz que encarnou Stephanie, tem que levar as telas essa mulher, bela e sedutora, que perde as duas pernas e tem sua vida completamente alterada, ou seja, elementos como desespero, angústia, felicidade, pequenas conquistas, precisam estar inseridos lá, e Marion nos leva a isso sem ter a menor dificuldade.
Além dessa agradável surpresa, o filme se destaca por ter uma fotografia lidíssima! Você poderia se perguntar, o que é Fotografia dentro do cinema? Bom, de uma maneira bem resumida, imagine uma cena de algum filme pausada, e coloque essa cena em um porta-retrato, pois é, essa seria a Fotografia do filme. As vezes o filme tem cenas tão marcantes e belas, que da vontade de fazer um poster com ele, e “Ferrugem e Osso” tem essa peculiaridade, acho que chama muito a atenção simplesmente por ser um filme simples, sem grandes orçamentos ou efeitos especiais, e ele ganha muito com a fotografia. Cenas como Stephanie sendo carregada depois de nadar no mar, ou logo no início do filme quando Ali vai para a casa de sua irmã, nos dão uma sensação de encanto e beleza. Simplesmente é belo demais.
“Ferrugem e Osso” tem um roteiro muito bem escrito e uma narrativa muito boa. Nos leva de tensão e tristeza, a paixão e encanto, é um filme que encanta pela sua beleza visual, mas que tem uma história muito simples e real, o que nos aproxima da história e nos envolve nela. Sem dúvida, é um ótimo filme que me motiva a buscar mais conteúdo que é indicado a Cannes e outros prêmios mais “alternativos”. “Ferrugem e Osso” é um filme que merece ser visto, e diga-se de passagem, o cinema francês realmente cresceu e se desenvolveu muito nos útlimos anos, merece nossa atenção.