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    Conspiração Americana
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Conspiração Americana

    Resgate de uma história

    por Lucas Salgado

    Um dos grandes atores de sua geração, tendo participado de clássicos como Golpe de Mestre e Butch Cassidy, Robert Redford conquistou um Oscar de Melhor Diretor logo em sua estreia por trás das câmeras, em Gente Como a Gente. De lá pra cá, se notabilizou por grandes intervalos entre um projeto e outro. Seu último filme, Conspiração Americana, não conquistou muito destaque nos cinemas norte-americanos e chegou ao Brasil com dois anos de atraso. Isso não significa que se trata de um longa ruim, sendo muito eficaz ao contar uma história, o fazendo de forma clássica e limpa.

    Não se trata de uma obra prima - longe disso – mas funciona, embora em alguns momentos mostra a mesma frieza que prejudicou o diretor em Leões e Cordeiros, seu filme anterior. Dessa vez, Redford não reservou para si nenhum personagem, mas isso não significa que o elenco esteja menos estelar, afinal estão lá nomes como James McAvoy, Robin Wright, Justin Long, Evan Rachel Wood, Kevin Kline, Alexis Bledel e Tom Wilkinson.

    A trama gira em torno do assassinato de Abraham Lincoln, 16º presidente dos Estados Unidos. Em 14 de abril de 1865, o conhecido ator John Wilkes Booth deu um tiro na cabeça de Lincoln enquanto ele assistia uma apresentação teatral. O longa resgata este momento histórico da política norte-americana, mas centra suas atenções para o que ocorreu depois. É basicamente um filme de tribunal, cuja a intriga poderia muito bem ter sido pensada por John Grisham (autor de livros que geraram Tempo de Matar, O Júri, A Firma e muitos outros). A única diferença é que neste caso o julgamento aconteceu no século XIX.

    Após o assassinato, várias pessoas foram presas e julgadas pelo crime. Dentre elas estava Mary Surratt, a dona de uma pensão que abrigou Booth e seus comparsas. O longa dá destaque justamente para a discussão a respeito da inocência ou não de Mary. A talentosa Robin Wright dá vida à personagem, e o faz de forma bem surpreendente. Ao interpretar uma mulher forte, determinada e ao mesmo tempo frágil, a ex-senhora Sean Penn tem uma das melhores atuações de sua carreira. O sempre competente James McAvoy interpreta o advogado de Surratt, que terá que lutar contra os próprios preconceitos para dar a sua cliente o direito de um julgamento justo.

    Do ponto de vista jurídico, Conspiração Americana é bem interessante, oferecendo a sempre válida, porém polêmica, discussão se um advogado deve defender seu cliente quando não acredita nele. Também é levantada a questão de tribunais de exceção em tempos de guerra e como a tendência militar é muitas vezes deixar a lei de lado em defesa do bem comum, ou melhor, da ideia de um bem comum. O filme faz a opção de não fazer julgamentos e não influenciar o espectador, e também não faz questão de dizer que o tudo que é visto em cena ocorreu daquela exata maneira. Numa obra de ficção é difícil não fazer modificações ou concessões.

    Kevin Kline e Tom Wilkinson aparecem pouco, mas roubam a cena sempre que estão lá. O primeiro dá vida ao Secretário de Guerra Edwin Stanton, que deseja ver todos os presos pelo assassinato serem condenados e, em seguida, executados, enquanto que o segundo interpreta o senador Reverdy Johnson, que defende que todo julgamento deve seguir o devido processo legal e que todos os réus são merecedores de defesa, abordando ainda a questão da presunção da inocência. Já Evan Rachel Wood tem um papel discreto, mas intenso. Ela vive Anna Surratt, uma jovem que tem sua família devastada após o caso e se vê tendo que fazer uma escolha impensável. Conhecida pela série Gilmore Girls e pelo filme Quatro Amigas e um Jeans Viajante, Alexis Bledel também marca presença, mas serve apenas como um rostinho bonito na obra, afinal sua personagem não tem muita função na trama, ao ponto de que é praticamente deixada de lado em determinado ponto.

    The Conspirator (no original) apresenta o belo trabalho de figurino, maquiagem, direção de arte e design de produção. A fotografia de Newton Thomas Sigel também é excelente, sendo muito curioso perceber que é muito diferente do trabalho de profissional no recente Drive. Mark Isham se sai bem no desenvolvimento da trilha sonora, assim como Craig McKay na montagem, que segue um ritmo clássico, mas nunca chato.

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