História Secreta
por Francisco RussoO nazismo trouxe ao povo alemão uma espécie de culpa inconsciente pelo ocorrido, devido às barbaridades patrocinadas por Hitler. Situação compreensível diante do ufanismo que cegou boa parte das pessoas, seja pela visão torta dos direitos humanos ou pelo real desconhecimento do que estava acontecendo. A Chave de Sarah surge para lembrar que a França também tem culpa no cartório, durante o período em que foi ocupada pelos nazistas, e aponta o dedo mostrando que a sujeira gerada é hoje jogada para debaixo do tapete, como se jamais tivesse existido.
O filme traz duas histórias, que se entrelaçam. No presente a jornalista Julia Jarmond (Kristin Scott Thomas, correta) é encarregada de elaborar uma matéria sobre os rastros da presença nazista em Paris. Espaço aberto para o tom de crítica, ao ressaltar a participação de parte da população – diretamente ou pela omissão - quando judeus franceses foram também enviados a campos de concentração. No passado, a menina Sarah (Mélusine Mayance) é uma das vítimas de tal perseguição, juntamente com os pais. Tentando salvar o irmão caçula, ela o tranca em um armário escondido no quarto e pede que não saia de lá até que volte. Enviada para o campo de concentração, Sarah vive uma corrida contra o tempo e tenta, a todo custo, retornar à sua antiga casa no intuito de salvá-lo.
A Chave de Sarah consegue se manter interessante enquanto o foco é dividido entre as pesquisas de Julia e o desespero de Sarah. Apesar de não trazer nada de novo em termos de narrativa e estética, as cenas no passado prendem o espectador pelo impacto do drama retratado. Ainda assim, em certos momentos há a nítida intenção de poupar o público de cenas mais fortes, o que gera um contrasenso diante do drama e da gravidade do ocorrido na época. É como se o filme estivesse disposto a mexer em velhas feridas, mas sem deixá-las tão expostas a ponto de gerar mal estar. Pode até agradar aos olhos, mas diminui bastante o impacto.
Entretanto, o grande problema do longa é a segunda metade, quando as duas histórias se relacionam de fato. Com a saga de Sarah já resolvida, as atenções se voltam todas para a personagem de Kristin Scott Thomas. Sua busca pela verdade, relacionada a motivações pessoais e com uma certa dose de obsessão, é bem menos interessante do que o retratado até então. Além disto, o ritmo extremamente lento faz com que o filme se torne bastante cansativo.
A Chave de Sarah é um filme que traz em sua proposta revelar uma verdade oculta, desinteressante para o status quo nos dias atuais, que foi a participação tácita durante a ocupação nazista na França. Só que o filme não demonstra o vigor da denúncia a que se propõe, tentando ganhar peso através de uma história de tons emocionais e a busca pela identidade. Funciona em parte, apenas enquanto a pequena Sarah está em cena. Fraco.