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    O Rei do Show
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    O Rei do Show

    Mentira pelo bem da família

    por Taiani Mendes

    Figura controversa da história do entretenimento, considerado um dos pais do circo moderno, P.T. Barnum foi empresário visionário que fez fama e fortuna apresentando fraudes ao respeitável público. Se você é daqueles espectadores que ficam profundamente aborrecidos quando produções cinematográficas inspiradas em fatos reais tomam grandes liberdades com relação aos acontecimentos, fica o aviso: O Rei do Show é uma versão bem romanceada da trajetória do showman, aqui um sonhador de origem pobre interpretado com o conhecido carisma, canto agradável e boa dança por Hugh Jackman, em performance que apaga Os Miseráveis da memória.

    O amarradinho e bastante previsível roteiro de Jenny Bicks (Sex and the City, The Big C, Rio 2) e Bill Condon (Chicago, Dreamgirls – Em Busca de um Sonho) usa o famoso nome do personagem e as lendas a respeito de seu polêmico inovador empreendimento para narrar um conto de ascensão social e realização de desejos que passa por acertos e erros, lições, punições e transformações educativas embaladas por canções pop. Em seu primeiro longa-metragem, o diretor Michael Gracey causa boa impressão pela segurança de veterano, estilo e bela mise-en-scène - especialmente nos trechos musicais e notável desde a empolgante sequência de abertura.

    O início no mundo da imaginação é a afirmação de que o norte da trama é a fantasia, o que, no entanto, não quer dizer que o Barnum do musical é um anjo generoso, protagonista imaculado. Aproveitador parcialmente honesto, o “Príncipe do Embuste” no caso aumenta, mas não inventa. Malandragem, egocentrismo, ambição sem limites e desprezo pelos sentimentos alheios estão entre suas características, obviamente suavizadas de acordo com o tom familiar do filme.

    Os relacionamentos em primeiro plano representam as mudanças de interesse de P.T.. Enquanto só tem olhos para a amada Charity (Michelle Williams), sua rasa parceira desde a infância, ele vive pela busca de “alcançar as estrelas” e mudar de vida honestamente; o bromance com o nobre Phillip Carlyle (Zac Efron, que não se mostra à altura de Jackman nos talentos artísticos) é o flerte com a alta sociedade; e o caso velado com a diva Jenny Lind (Rebecca Ferguson) o revela completamente cego pelo reconhecimento e novo status. Há ainda um crítico recorrente, cuja participação não chega a render pela péssima interpretação de Paul Sparks, destoante do elenco.

    E as estrelas do espetáculo nisso? Estão sempre lá, como coadjuvantes, à margem. O longa-metragem, assim como o show, gira em torno do “rei” Barnum e poucos são os freaks nomeados ou com direito a falas.  A questão racial é inserida no mesmo balaio sem maiores explicações e o próprio show mal é capaz de ser compreendido em sua integridade, picotado em flashes insuficientes. Ao menos um número exclusivo tais personagens têm, com a empoderadora "This is Me".

     Ao lado de "The Greatest Show" e "Never Enough" a canção forma a trinca de destaque da trilha sonora original composta por Justin Paul e Benj Pasek (vencedores do Oscar por La La Land – Cantando Estações). Também bonita, "Rewrite the Stars" acaba sendo ofuscada pelo vigor físico e estripulias dos personagens de Efron e Zendaya nas alturas. Em termos vocais Williams é a mais limitada e Ferguson é a única dublada por uma cantora profissional, Loren Allred. Compreensível, considerando que Jenny Lind, o Rouxinol Sueco, é apresentada como a maior cantora do mundo. Transmitindo ao espectador o efeito de encanto que a artista causa em P.T. Barnum, quando ela entra em cena é como se tudo ao redor sumisse e quando solta a voz o tempo parece parar para admirar.

    O logo vintage da 20th Century Fox sugere viagem no tempo, porém, apesar do século antigo, o que invade a tela é um produto original (no sentido de não ser remake, nem adaptação, algo especialmente louvável considerando o gênero e as produções que dominam o mercado hoje) cheio de frescor. O slow motion característico dos filmes de ação acrescenta aos números musicais e as coreografias são estimulantes – não tanto depois que se nota que são basicamente os mesmos passos repetidos com pequenas variações.

    Ainda que o circo não pegue fogo metaforicamente, O Rei do Show é um bom escape energizado e oferece o espetáculo prometido com ingenuidade que lembra musicais clássicos. Não existem as referências (ou a química do par) de La La Land, tampouco as inovações de Moulin Rouge – Amor em Vermelho, ou mesmo os hits de Mamma Mia!, mas há o necessário para que a magia aconteça e o suficiente para que o próximo trabalho do diretor de primeira viagem seja aguardado com expectativa.

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