Os Famosos e os Duendes da Morte: Críticas

Uma obra rara no nosso cinema tupiniquim. Um filme de uma qualidae ímpar com uma trilha sonora maravilhosa capitaneada pela maravilhosa Mr. Tambourine do grande Bob Dylan. Não é um filme para todos, mas é um grande filme que recomendo para quem tem sensibilidade e sabe que a estrada vai além do que se vê.

Título original – Os Famosos e os Duendes da Morte
País de origem – Brasil
Diretor – Esmir Filho
Gênero – Drama
Duração – 95 minutos
Ano – 2009

Esmir Filho já é uma figura bastante conhecida no meio cinematográfico nacional em função dos diversos curtas já lançados, em especial pelo seu trabalho mais popular que é a obra “Tapa na Pantera”, com a atriz Maria Alice Vergueiro.
Sob um curioso e até mesmo estranho título, Esmir lança o seu primeiro longa: “Os Famosos e os Duendes da Morte”.

A história se passa no interior do Rio Grande do Sul. Lá vive um jovem que, ao usar a internet, assina com o codinome de Mr. Tambourine Man. Seu grande desejo é justamente sair da cidadezinha pacata e sem graça em que vive e vislumbrar novos horizontes. A trama ainda apresenta um mistério: um homem enigmático surge na região e irá trazer lembranças para o rapaz.
A partir daí o espectador irá se deparar com os anseios, problemas, inconformismos, lembranças e angústias do jovem Tambourine Man.

Esmir Filho dá um tom poético, sensível e delicado à narrativa; mergulha profundamente no interior do rapaz, trazendo à tona as suas vontades e exibindo seus pensamentos e suas fugas; convida o espectador a participar da experiência que, por vezes, se torna quase surreal; mostra as maneiras de se lidar e conviver com a solidão.

O diretor utiliza uma linguagem contemporânea, pois o rapaz estabelece o contato com o mundo exterior, de forma mais plena, através do mundo virtual: Blog, Flickr, Msn e YouTube são referências constantes. Na realidade estas ferramentas funcionam como a grande forma de comunicação com o mundo.
Há ainda a mãe do protagonista: uma senhora viúva que, para fugir da solidão e preencher o seu vazio, conversa com seu cachorro como se este fosse seu filho. Um grande exemplo de isolamento e de falta de diálogo com o ser humano.

“Os Famosos e os Duendes da Morte” é um filme que, em um primeiro momento, pode parecer cansativo, pois é muito diferente do que comumente vemos no cinema nacional. Não há tiros, correrias, violência, prostituição, favelas, grandes metrópoles e nem mesmo atores famosos. É uma narrativa lenta, extremamente lenta e que requer um olhar contemplativo e diferenciado. É uma história que explora o interior do personagem.

Além disso, Esmir Filho realiza uma obra esteticamente muito bem feita, pois utiliza belos enquadramentos, tornando assim as cenas grandiosas. Há inúmeros exemplos: Um Plongée de uma ponte, cujo resultado é uma imagem bela, misteriosa e enigmática; a cena da borboleta que agoniza ao chão soa delicada e poética, ao mesmo tempo em que há uma densidade dramática; as imagens da jovem misteriosa em meio ao campo, dando a impressão de estarmos diante de uma alma perdida; o belíssimo Plongée circular de um gira-gira.

“Os Famosos e os Duendes da Morte” é uma obra baseada no romance do escritor Ismael Caneppele, que também assina o roteiro juntamente com o diretor.
O filme estreou no Festival de Locarno e ganhou alguns prêmios, dentre eles o de melhor filme no Festival do Rio e Prêmio Público Milênio de Melhor Longa Iberoamericano de Ficção no Festival Internacional de Cinema de Guadalajara.

Certamente a narrativa de Esmir Filho não irá agradar a grande maioria, mas não podemos negar, de forma alguma, que este diretor apresenta um trabalho não somente diferenciado, mas acima de tudo original. E é por todos os fatores aqui descritos que ele mostra que veio para ganhar o jogo e para se tornar um grande nome no cinema nacional.

Parabéns. Este filme foge do que chamamos de "cinema nacional" com favela, pobreza e morte. E ao assisti-lo me lembrou muito o que o Gus Van Sant faz. Acho que poucos tem este olhar e o Esmir Filho conseguiu faze-lo incrivelmente. Recomendo assisti-lo milhões de vezes.