A premissa da nova empreitada de King Kong nos cinemas é interessante: mostrar o gorila gigante ainda em seu habitat natural, a tal Ilha da Caveira. O ano é 1973 e os EUA acabaram de “se retirar” da Guerra do Vietnã. É quando uma dupla de cientistas consegue convencer o governo americano de que é hora de investir em uma expedição que poderá render valiosas descobertas. Assim, um grupo formado por soldados e civis qualificados parte em direção a uma região do Pacífico totalmente inóspita, na qual uma misteriosa ilha, captada pelo satélite, é inteiramente rodeada por uma tempestade contínua, escondendo, portanto, seus mistérios. O que, afinal, há neste lugar inexplorado?
Kong: A Ilha da Caveira foi escrito (de maneira bastante convencional, sem muitos invencionismos), por três profissionais entendidos do assunto. Max Borenstein assinou o roteiro de Godzilla, Derek Connolly, o de Jurassic World, e Dan Gilroy o de Gigantes de Aço. Quanto ao diretor, o jovem Jordan Vogt-Roberts, ele conseguiu a proeza de mesclar a atmosfera assustadora da ilha – habitada por criaturas gigantes – com um clima de guerra a lá Apocalipse Now, filme que o cineasta confessou ter sido uma de suas inspirações para criar o visual deste seu surreal embate militar. Não há como negar que algumas cenas remetam imediatamente ao clássico lançado em 1979 por Francis Ford Coppola. Só faltou a Cavalgada das Valkírias para consolidar ainda mais o tom épico da frota de helicópteros sobrevoando a ilha, tendo à sua frente o sol cujo tom avermelhado se apodera de toda a tela. Outras tomadas, realizadas em câmera lenta, reforçando o perigo e a tensão de algumas ações, podem nos fazer lembrar do amado/odiado Zack Snider em seu 300.
Os humanos, necessários para que a história seja contada, são encabeçados por rostos conhecidos, e um deles reserva até uma agradável surpresa ao final de seu arco narrativo. Em meio à desordem estabelecida quando o grupo chega à ilha, a paranoia belicista do militar de Samuel J. Jackson também oferece um interessante retrato, porém completamente oposto aos demais. Tom Hiddelston faz um herói contido e precavido, o que não o impede de ter os seus momentos de ação (um deles em câmera lenta). E a fotógrafa vivida por Brie Larson (a futura Capitã Marvel do cinema, e que em 2016 ganhou um Oscar por O Quarto de Jack), com suas atitudes singelas, desperta no gorilão a sua já famosa “queda” por uma loira.
Neste novo longa, porém, não há espaço para “romance”, pois Kong está muito ocupado com as batalhas que tem que travar. E desta vez ele está bem maior do que suas versões anteriores. Isso fica evidente quando os helicópteros se aproximam da criatura, ou quando ele tem certa personagem, literalmente, em sua mão. O trabalho de captura de imagem para a realização do gorila colossal e a proporção de todo o cenário selvagem (digital, obviamente) à sua volta nos permitem comprar a ideia de sua grandiosidade, com olhares e movimentos fortemente convincentes. O visual das demais criaturas bizarras que habitam a ilha também é capaz de proporcionar deleite aos fãs do gênero.
A cena pós-créditos (que virou moda em Hollywood) deixa explícita a intenção da Warner em produzir o confronto de seus dois maiores (literalmente) monstros. Essa proposta é um sonho antigo, desde que a gigantesca criatura nipônica (que é um dos maiores ídolos da terra do sol nascente) enfrentou o gorilão em 1962, no filme japonês King Kong Vs. Godzilla. A boa bilheteria do mediano Godzilla made in USA lançado em 2014 empolgou ainda mais os produtores para a realização deste duelo de titãs. Círculo de Fogo, de Gillermo Del Toro, lançado um ano antes (também pela Warner) e com temática similar, é outro que faturou alto. O êxito do novo Kong era o que os produtores precisavam para oficializarem a batalha entre ele e Godzilla, prevista para chegar às telonas em 2020. Que seja, de fato, um encontro épico. O sucesso comercial das recentes investidas nesse filão não deixa dúvidas quanto à receptividade por parte do público do lado de cá do Atlântico, desmistificando que monstros gigantes é “coisa de japonês”. Afinal, nós, ocidentais, também gostamos muito de fugir da realidade vendo criaturas colossais se engalfinhando por entre as matas selvagens de uma ilha distante e tempestuosa, ou... em meio aos mais altos arranha-céus das maiores metrópoles do mundo.