Arizona Nunca Mais (Raising Arizona)
Os irmãos Coen caminham, em seu segundo filme, para um rumo totalmente diferente do que foi apresentado em "Gosto de Sangue" (Blood Simple., 1984). "Arizona Nunca Mais" (Raising Arizona, 1987) expõe um outro lado dos diretores, numa comédia divertida e repleta do humor negro inconfundível. Mais uma vez, notamos a incrível capacidade de Joel e Ethan para criar cenas e sequências marcantes, trabalhando com mais de um gênero de forma eficiente.
No filme, um casal formado por uma policial e por um bandido - Holly Hunter e Nicolas Cage - descobre que não podem ter filhos, e nem ao menos adotar um, afinal de contas, a ficha criminal do "pai" acaba comprometendo. No entanto, o casal planeja um roubo extremamente inusitado; pegar um, dos cinco filhos que nasceram de um famoso vendedor da cidade. Tudo sai muito bem, entretanto, aos poucos, o casal começa a perceber que não são tão capazes assim de lidar com o mais novo integrante da família.
"Arizona Nunca Mais" não é a melhor exibição dos diretores, e nem aparenta querer essa intitulação, entretanto, não se rende a um trabalho raso. Novamente com roteiro escrito pelos próprios irmãos, "Arizona Nunca Mais" é o outro lado dos diretores, que também ganharia espaço nas próximas obras. Bem conduzido e divertido, é um filme menor, mas ainda assim importante dentro da filmografia de Joel e Ethan Coen. Os primeiros minutos resgatam a técnica utilizada em "Gosto de Sangue". Os diálogos já marcam os primeiros minutos do filme, com a narração do personagem de Nicolas Cage, colocando o espectador a par da sua situação. Em pouco tempo, já é fácil de notar o tom cômico que seria utilizado, principalmente pela construção dos personagens.
Passando pelas figuras mais bizarras possíveis, desde um prisioneiro que sofre com cólicas menstruais, até um caçador de bebês desaparecidos, os irmãos Coen exploram seus personagens, sempre bem construídos, para criar bons momentos dentro da produção. A atuação de Nicolas Cage colabora para o efeito desejado, se destacando em quase todas as cenas. Nada como bons diretores e um papel interessante para auxiliar o início de uma nova carreira. Sobre o trabalho de câmera, novamente temos um bom desempenho, com enquadramentos marcantes, como a cena em que o casal toma sol, e sequências caprichadas, como o sonho sobre o tal caçador de bebês desaparecidos. Por fim, a montagem que prioriza as expressões dos bebês de acordo com cada situação é outro fator relevante, e, por conseguinte, que gera momentos engraçados.
Mesmo com a comédia sendo o foco principal da produção, notamos uma alternância de gêneros com o passar do tempo. Vemos a transição para a ação, devido as perseguições, sempre causadas por motivos cômicos, e até mesmo para o drama, nos minutos finais. O desfecho representa um dos melhores momentos do filme, onde os diálogos, como já é de praxe, encerram com uma frase curta, mas que funciona muito bem. Ao som de Way out There, de Carter Burwell, "Arizona Nunca Mais" garante sua boa posição num ano de boas obras.
Estreiar bem é de suma importância, justamente por aguçar os olhos do espectador, entretanto, manter a eficiência com o passar dos anos é algo que poucos diretores conseguem fazer. Além de manter um bom nível, Joen e Ethan comprovam a versatilidade tão almejada pelo público, proveniente de um grande amor pelo Cinema. Juntamente com os diretores, vemos Cage num dos seus primeiros trabalhos e, sem dúvida alguma, dos mais importantes. Infelizmente, o espectador não foi presenteado com outra parceria envolvendo os irmãos Coen e Nicolas Cage.