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    Hitman: Agente 47
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Hitman: Agente 47

    Máquinas de matar

    por Bruno Carmelo

    Depois do fracasso de Hitman - Assassino 47 (2007), o videogame Hitman ganha uma nova oportunidade de tentar o sucesso nos cinemas. A seu favor, ele tem o conteúdo com tiros e perseguições frenéticos, que parecem adequados a uma produção de ação. Contra o filme, existe o preconceito que afeta qualquer adaptação dos games (ainda não considerados “arte” nos círculos culturais), além do fato que a linguagem dos jogos e a linguagem do cinema hollywoodiano são praticamente opostas: enquanto o videogame coloca o espectador em posição ativa (é ele que atira, corre, dirige os carros), o blockbuster faz de seu espectador um sujeito passivo por excelência, esperando para ser entretido.

    O melhor aspecto desta nova produção, sem dúvida, são as cenas de combate. O diretor estreante Aleksander Bach investe em lutas frias, reforçadas pelo uso impactante do som. A vantagem da classificação “R” (proibida a menores de idade) é poder incluir crânios quebrados, sangue espirrando pelos ares e colunas fraturadas quando os malvados caem no chão. Ao contrário das lutas assépticas das produções de super-heróis, esta impressiona por opor uma máquina de matar (Rupert Friend) a diversos humanos enviados ao abate. Neste sentido, temos algo próximo do prazer B de De Volta ao Jogo, que também apostava na brutalidade como forma de diversão.

    O ponto fraco encontra-se na tentativa de investir no melodrama. Enquanto Hitman destrói pessoas em seu caminho, a confusa Katia Van Dees (Hannah Ware) procura pelo pai, chora em sua casa, entope-se de medicamentos para dormir. Quando o roteiro embarca na saga de uma garotinha perdida em busca de amor paterno, entram em cena os piores clichês, aliados a uma porção de frases de efeito hilárias de tão ruins. Aliás, todos os momentos de autodescoberta ligados à personagem feminina são superficiais, comprovando que os filmes brutamontes ainda não sabem muito bem o que fazer com mulheres em suas histórias.

    Muitas coisas não fazem sentido em Hitman: Agente 47. Desde a narração inicial, longa e confusa, até as reviravoltas absurdas no final, o roteiro está repleto de furos. O roteirista Skip Woods (o mesmo da fracassada produção de 2007) cria uma personagem capaz de antecipar todos os ataques em sua direção, mas estes poderes nunca funcionam quando ela precisa; ele desenvolve um homem protegido contra tiros (Zachary Quinto), mas na hora da briga entre este e o Agente 47, o protagonista ciente da capacidade excepcional do adversário tenta vencê-lo com um revólver. Isso sem falar na maneira risível como Katia deduz informações sobre seu pai (“Ele está em Singapura! Ele deve estar no orquidário às 8h!”).

    Apesar da história atrapalhada, é preciso aplaudir a abordagem direta do filme. Ao contrário das típicas produções de ação em que o herói é um galã com força sobre-humana, escapando dos tiros como por milagre, Hitman evita a hipocrisia: seu protagonista é assumidamente uma máquina desprovida de emoções. Não há espaço para arrependimento, para piedade nem para o forçado romance comum a estas histórias. Alguns críticos reclamaram da falta de humanismo do assassino principal, mas é isto que faz dele um personagem descomplexado, digno herdeiro dos videogames. Ele está presente para atirar, correr e fugir, nada mais.

    Hitman: Agente 47 é beneficiado pelas boas atuações de Friend e Ware, que fazem o que podem para equilibrar seus personagens: ele tenta atribuir um pouco de hesitação ao elegante Robocop, ela busca trazer determinação à sua frágil personagem. Apenas Zachary Quinto, de voz doce e vacilante, fica deslocado no papel do vilão principal. Por fim, esta produção não apresenta nenhuma originalidade: as coreografias mirabolantes de ação parecem extraídas de Matrix, a tecnologia virtual é muito semelhante à de Minority Report, a trilha sonora no clímax é incrivelmente parecida com o tema clássico de Missão Impossível. Mas o filme evita os heróis frágeis que agem em nome do amor (à família, a uma mulher, à nação), substituindo-o por um assassino frio, que estoura os miolos de seus adversários como quem diz bom dia. O cinema de ação também tem espaço para tramas que vão direto ao ponto.

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