Nunca desejei fazer parte de outras redes sociais que não fosse o “velho” e já bem familiar Orkut, na verdade não despertei a curiosidade necessária para ter “perfil” com outra rede social, e assim, perder mais horas e horas numa atividade qualquer da rede. Recebi diversos convites para o “Facebook”, tão é voga atualmente! Mas se antes eu não tinha interesse, depois que assisti ao filme, excelente por sinal, eu definitivamente decidi realmente não querer participar dessa rede em especial! Confesso que o filme prendeu minha atenção e me deixou com um sentimento ambíguo, misto de uma admiração, até determinado aspecto, e também de raiva de Mark Zuckerberg, um dos criadores da rede. O filme retrata um garoto indiscutivelmente genial e também muito tímido, além de mimado, revoltado, vingativo, muito ganancioso, trapaceiro, extremamente arrogante, frio e que passa boa parte do dia de chinelo e moletom. Na hora em que assistia ao filme, por alguns minutos perdi minha atenção, lembrei de algumas pessoas com o mesmo perfil emocional e psicológico do rapaz, inclusive pessoas que hoje se aproveitam dessas e outras redes sociais não para conhecer amigos ou conhecer quem sabe alguém especial, mas para agir com a mesma frieza e arrogância do jovem criador da rede. Mas isso é só um detalhe de “elucubrações” pessoais e... Experiências desagradáveis, como a vivida pela jovem do filme, namorada do rapaz, que ao perceber estar se relacionando com um grande otário, frio, egocêntrico e insensível resolve dar o fora, antes, claro, desabafando seus sentimentos e falando ao rapaz tudo o que sentia e achava sobre ele!
O longa metragem, que estreou no Brasil em três de dezembro, manifesta-se como a história do Facebook, a maior rede social do planeta, segundo dados da própria rede, com mais de 500 milhões de usuários. Mas uma coisa que à priori pode-se saber do filme, é que o mesmo relata parte do trajeto da vida de Zuckerberg, tido como um prodígio da computação que se tornou bilionário aos 23 anos, cuja história serve para Fincher, o diretor, traçar um retrato crítico da juventude atual... Vê, porque me lembrei de alguém?! E quase como um antropólogo, o diretor comprova sua capacidade de analisar o homem, seja ele um assassino em série, como fez em: SEVEN, um repórter policial ou um nerd. “A rede social” tem como cenário a famosa Universidade de Harvard, no ano de 2003. Zuckerberg, muito bem representado pelo ator Jesse Eisemberg, é um jovem estudante que acaba de ser largado pela namorada. Para se vingar, insatisfeito com as verdades ditas pela moça, ele então se torna se um blogueiro sociopata (meu Deus, o filme é de fato um retrato quase que fiel da atualidade, das ações de gente fria, mentirosa, infiel, enganadora e que pratica, só como um dos exemplos, o já conhecido Bullyng, atrás de suas telas, em seus quartos, próximos aos seus “armários”, sem coragem para mostrar a cara, mas impiedosamente.). Continuando, o que Zuckerberg faz após ter seu comportamento desprezível nomeado e enumerado pela garota é voltar para casa e destruir a reputação dela e, em seguida, cria ao lado do programador brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield) um aplicativo batizado de Facemash, cujo mote é ranquear e promover uma disputa de beleza entre as universitárias. O que acontece? Qual o resultado disso? A invenção o torna popular pela primeira vez. Três amigos, vendo o potencial do rapaz, o convidam então para ajudar a pôr no ar um projeto pessoal: Uma rede social universitária, de nicho, em que os cadastrados poderão se relacionar sabendo exatamente quem é a pessoa por trás da tela do monitor. Enquanto os amigos investem no site, Zuckerberg se tranca em seu quarto e, num cômodo processo de copia e cola, pega os elementos desses colegas e os aprimora para aquilo que se tornaria o seu “The Facebook”, aceito instantaneamente em Harvard e em outras faculdades americanas e européias. O sucesso, no entanto, o leva a complicações na vida social e profissional. Muito mais do que um filme do Facebook é um retrato de um indivíduo realmente complexo, e claro, genial. A direção está brilhante no desenvolvimento da trama e na forma como o elenco foi conduzido. A narrativa não é linear, mescla cenas do passado com o presente, como Zuckerberg hora programando e hora, se defendendo no tribunal universitário de seus ex-colegas que lutam pelo crédito a que têm direito. Essas cenas de disputa são bem tensas e apresentam uma geração promissora de novos atores. Eisemberg interpreta com uma arrogância silenciosa: Ele não sorri nem altera o tom de voz e tem uma forma de falar meio que atropelando as palavras. Já o ator Garfield, brevemente o novo Homem-Aranha, destaca-se pela carga dramática que emprega ao seu personagem, numa passagem triste e indignante em que o melhor e praticamente único amigo de Zuckerberg leva uma rasteira daquelas.
O filme é atualíssimo não por ter apenas o Facebook, contudo, por abordar questões pertinentes como o bullying virtual, que fiz referência e a falsa sensação de poder que a internet pode criar. Sem falar em outras questões... O filme é um drama que tem vários elementos favoráveis para ganhar o prêmio mais desejado da indústria cinematográfica, o tão reverenciado Oscar, que acontecerá no final de fevereiro. É praticamente dado como certa, em várias apostas feitas por críticos e especialistas da área, que a película será agraciada a “melhor” de 2010. Existem outras indicações também, uma delas, justa no meu ponto de vista, é a de melhor ator, mas a Academia não costuma premiar, numa categoria tão importante, atores iniciantes, sem outros papeis significativos, aliás, o ator mais jovem a vencer o prêmio como melhor ator foi Adrien Brody, por The Pianist, com então 29 anos. Tudo indica que este ano o vencedor da categoria será o excelente ator Colin Firth, indicado no ano passado por sua boa atuação no filme: “A single man”, apesar da atuação de Jesse Eisenberg mostrar de forma espetacular uma pessoa fria, calculista, ambiciosa, sem medo de processos e de ninguém, mas que no fundo se sente arrependido e sozinho, sem demonstrar tais fragilidades. Como dito anteriormente “A Rede Social” é muito mais do que um simples filme sobre a criação do Facebook, o longa mostra também uma história de amizade destruída por dinheiro, ambição, insegurança, caráter (falta do mesmo ou ao menos duvidoso) e desejo de obter fama. A Rede Social é um excelente filme, de certa forma passa-nos uma lição de vida, sem tal intenção, pois aí seria chato ficar tanto tempo sentando na poltrona para receber lições de moral, mas despretensiosamente nos diz que tudo na vida tem um preço... E tem mesmo. Um dos lances mais legais do filme é mostrar que a obsessão do louco em criar uma ferramenta que estabelecesse um elo entre as pessoas, mesmo que inicialmente superficial, foi responsável por desfazer a única união verdadeira (de amizade) que ele tinha no mundo real. Isso é algo que não pode passar despercebido. The Social Network (no original) é sim um dos melhores filmes de 2010, apesar do ano não ter tido grandes safras, mas o filme merece ser conferido com atenção por retratar, dentre outras informações, como um sujeito nada social, maquiavélico, alheio aos sentimentos dos outros e realmente gélido, foi capaz de criar algo que para muitos significa alegria, interesse caracteristicamente humano ao possibilitar reencontrar amigos queridos, a euforia e a sorte de unir corações carentes, unir gente com as mesmas afinidades, propiciar muitas paixões, e até relações sólidas e reais, enfim, histórias na grande maioria felizes, tudo isso promovido por essa pessoa fria, criadora da maior e mais celebrada comunidade social da internet, mas que em meio aos seus bilhões parece ser e estar no íntimo tão só... Seria muito intrigante tal condição se a história não tivesse mostrado tudo o que ele fez, ou deixou de fazer, com arrogância, mentira, traição, engano, covardia, vingança e egoísmo, para satisfazer apenas seus interesses pessoais!