Real e excessivo
por Roberto CunhaFilmes baseados em fatos reais possuem em sua essência um elemento que costuma dar força extra para qualquer produção. Quando o assunto em questão é dramático, esse "turbo" até fica mais forte, mas sempre existe o risco de ficar piegas e aí todo cuidado é pouco.
De férias e curtindo a vida com os três filhos pequenos na Tailândia, um casal acaba separado por um tsunami que sai levando tudo o que encontra pela frente. Dai em diante, mãe e filho mais velho começam uma jornada de muita dor e união. Sem abandonar a crença de que todos voltarão a se reunir novamente, os dois alternam entre a razão e a emoção. Tudo para conquistar a turma da sala escura. Enquanto isso, o pai e os dois menores também experimentam a separação, enfrentando o mesmo cenário de destruição e desesperança.
A tragédia de 2004 que chocou o mundo no período do Natal (o filme estreia na mesma época), não é novidade para ninguém. No cinema, o diretor Clint Eastwood puxou mais para o lado espiritual em Além da Vida, mas o longa do espanhol Juan Antonio Bayona explora o episódio em toda a sua dimensão. E traz até você, ou melhor, leva você através de cenas de grande impacto visual, que vão provocar as mais diversas reações no público. Algumas vão até chocar pelo leve flerte com o cinema trash, como aconteceu na hora de mostrar os machucados da protagonista.
No elenco,
Ewan McGregor e Naomi Watts são os rostos conhecidos, e o talento de ambos não está em questão. No papel de filho mais velho, o jovem Tom Holland também segurou bem, mas é o roteiro de Sergio G. Sánchez, que não ajuda muito. Apesar de já ter trabalhado antes com o diretor no ótimo O Orfanato, dessa vez a dupla não funcionou tão bem e uma das razões foi querer fazer o possível para inserir na trama uma série de clichês.
Não se trata aqui de condenar o uso desses recursos, muitas vezes válidos, mas a maioria ficou artificial, como os "encontros e desencontros" dos personagens. A música ajudou a manter essa impressão, mas em contrapartida os silêncios funcionaram, assim como os efeitos especiais que deixarão muita gente sem fôlego em determinadas cenas. A falta de conteúdo em muitas delas, no entanto, fez com que ficassem bem rasas, como aconteceu na hora de falar de solidariedade.
Diferente das muitas produções sem recursos financeiros que tinham apenas o elemento real como gancho, O Impossível custou cerca de 30 milhões de euros e tem a intenção de arrebatar corações. Se isso vai acontecer, de verdade, vai depender única e exclusivamente de sua pré-disposição para se deixar levar pelo filme, que não hesita em ser apelativo. O que acabou por fazer com que ele perdesse, de certa forma, sua força.