“Aqui é o Meu Lugar”, filme dirigido e co-escrito por Paolo Sorrentino, é uma obra que chega a enganar o espectador, especialmente no seu primeiro ato. Nele, acompanhamos o desenho da rotina de Cheyenne (Sean Penn), um ex-astro do rock, com um visual que se assemelha muito ao de Robert Smith, líder do grupo inglês The Cure. Aos 50 anos, ele perambula pela cidade onde fixou residência, como se fosse uma espécie de Ozzy Osbourne (alguém cujos excessos lhe causaram um estado de aparente demência e lentidão de raciocínio). Mas, algo ali está bem aparente para a plateia: o desejo que Cheyenne possui de ajudar os outros – seja nos seus relacionamentos amorosos ou nos seus problemas mais íntimos.
É essa essência do personagem principal que faz com que a gente, de uma certa maneira, não se surpreenda com o grande ponto de virada da trama de “Aqui é o Meu Lugar”: após a morte repentina de seu pai, com quem ele não falava há muitos anos, Cheyenne assume como sua missão aquilo que era a verdadeira obsessão de seu pai: encontrar e se vingar de um oficial alemão nazista que havia humilhado-o profundamente num campo de concentração durante a II Guerra Mundial.
Desta maneira, “Aqui é o Meu Lugar” nada mais é do que um road movie na melhor acepção do gênero. A grande jornada de Cheyenne, durante o filme, é a que o leva rumo a um processo de auto descoberta, por meio do encontro com a intimidade do seu próprio pai, em que ele poderá se livrar daquilo que, um dia, ele foi; de forma a poder seguir em frente com aquilo que o futuro lhe reserva. Desta maneira, o grande destaque do longa acaba sendo a atuação de Sean Penn, especialmente no retrato das transformações pelas quais Cheyenne passa – o que acaba atenuando alguns furos que o roteiro escrito por Paolo Sorrentino e Umberto Contarello deixam sem respostas aparentes.