Nunca é um bom sinal quando alguma franquia precisa “resetar” ou pelo menos modificar algumas coisas para conseguir continuar – visto que os dois primeiros filmes de O Exterminador do Futuro (principalmente o segundo) eram perolas do cinema de ação e ficção cientifica, era muito difícil considerar os três filmes saídos depois – o terceiro filme era uma mera reciclagem do segundo, mas bem filmado; enquanto que o quarto filme era mais interessante por ter um Christian Bale como John Connor, mesmo tendo uma direção irregular – ao passo que o pavoroso Genesis errava em praticamente tudo ao tentar reiniciar certas coisas – transformando (ridiculamente) John Connor em um vilão, por exemplo. O futuro parecia pouco promissor – assim como aquele dominado pelas máquinas – para a série. Mas, como os rebeldes da resistência, a esperança sempre está aí – e não é que Destino Sombrio – agora sob a direção de Tim Miller, de Deadpool – é, de longe, o melhor filme da franquia depois dos dois primeiros!
Mesmo que este sexto longa da série (mas, cronologicamente, seja o terceiro, digamos assim) possua alguns problemas – que explicarei a frente – ele consegue entreter o suficiente para que suas duas horas de projeção sejam fluentes e condizentes com o legado dos filmes originais – conseguindo apresentar velhos e novos personagens da melhor maneira possível – mas, infelizmente, se olharmos em retrospecto as tramas brilhantemente fechadas com os capítulos 1 e 2, enxergaremos alguns chavões ou soluções fracas ou forçadas até – mas, analisando o filme em si, ele cumpre muito bem suas propostas – e consegue habilmente dar protagonismo as mulheres, sem soar forçado e desfazendo a injustiça que os três filmes anteriores cometeram – de simplesmente terem descartado a Sarah Connor de Linda Hamilton – apesar que também envolvia a briga da atriz com James Cameron nos bastidores – mas, agora, com esses problemas resolvidos, o roteiro de Billy Ray e David S. Goyer - um nome que nos traz coisas ótimas a mente (Batman – O Cavaleiro das Trevas) e decepcionantes (Batman Vs Superman) – além da colaboração do próprio Cameron – a história foca na protagonista original de Terminator – além de inserir duas personagens importantes e se apropriando de uma estrutura de roteiro que remete a trama do original, mas elevando para algo novo – coisa semelhante ao que J. J. Abrams fez com seu episódio VII de Star Wars.
Já em meio aos créditos das produtoras no inicio, Destino Sombrio nos mostra flashs de Sarah Connor em O Exterminador do Futuro 2, para poder, em seguida, nos apresentar um fato marcante para ela, ocorrido cerca de sete anos após a trama de O Julgamento Final – saltando para a nossa época atual, o longa nos apresenta a Daniella (Reyes), uma moça mexicana, que vive em uma cidade que faz fronteira com os Estados Unidos – em um dia em seu trabalho, em uma fabrica, Daniella e seu irmão (Boneta) são atacados por um novo tipo de Exterminador, o moderno Rev-9 (Luna), vindo do futuro – assim como a guerreira rebelde Grace (Davis), humana aprimorada, com força e habilidades próximas dos antigos Exterminadores – Grace tem a missão de proteger Dani do terrível Rev-9, mas vai contar com a inesperada ajuda de Sarah Connor, disposta a entender o que está acontecendo, já que havia eliminado a ameaça das máquinas antes – que parece retornar ainda pior agora.
Mas e o nosso querido T-800 de nosso querido Schwarzenegger? O roteiro o coloca como um coadjuvante – mas, nem de longe, isso é algo ruim. Torna-se uma boa oportunidade de explorar as personagens femininas – seja o dilema já conhecido de Sarah, fazendo com que Linda Hamilton impressione pela dureza e certa frieza de sua personagem, principalmente quando precisa lidar com remorsos e traumas de seu passado – aos 63 anos, mesmo demonstrando, em aparência, os sinais da idade, a atriz ainda impressiona pelo físico em momentos de ação – remetendo, de fato, a personalidade forte vista no clássico segundo filme; e ainda com Natalia Reyes interpretando sua Dani de maneira bem verdadeira, principalmente quando passa de sua ingenuidade até começar a perceber a situação difícil e pesada em que se encontra, em uma boa composição – o roteiro já demonstra sua importância quando ela fica indignada com o fato do irmão ter sido substituído por uma maquina, em seu trabalho – uma dica simples, mas eficiente sobre o seu futuro – fora o fato de que a crescente ligação dela com a Grace de Mackenzie Davis é uma das melhores coisas do filme – fazendo com Davis impressione por sua expressividade e físico, dando uma complexidade que ajuda a compreender melhor as motivações da personagem, sem soar forçado sua vontade de “cumprir seu dever” – ajudado ainda por uma boa inserção de flashbacks, que realmente ajudam na compreensão de certos sentimentos e vontades das personagens.
Sendo assim, o Exterminador de Schwarzenegger funciona agora como um tipo de ligação emocional com a personagem de Linda Hamilton – como isso é algo que só surge do meio da trama para frente, não vou me aprofundar, para evitar os spoilers – assim como a participação bem curta de John Connor – mas tal envolvimento funciona bem, embora seja um daqueles chavões que citei no inicio – afinal, para continuar a história, que já havia sido concluída antes, o roteiro necessitou criar um novo inimigo – que, embora parecido em suas motivações, soa como um novo destino compreensível – afinal, se Sarah e John salvaram a humanidade das máquinas uma vez, não significa que a tecnologia no futuro não progrediria para causar a mesma ameaça de novo nesta nova linha temporal, que o roteiro consegue explorar sem apresentar furos – já que viagem no tempo é um tipo de coisa onde vários filmes se perdem ou apresentam falhas de continuidade, digamos assim – desta forma, o novo Exterminador de Gabriel Luna torna-se um inimigo com habilidade aprimoradas, podendo até se dividir em dois e assumir mais formas do que o T-1000 de Robert Patrick, por exemplo – mesmo não sendo tão ameaçador, consegue o suficiente para conferir tensão para a trama – ele pode manipular satélites e até mesmo exércitos para ir atrás de Dani, Grace e Sarah – o que torna sua ameaça verdadeira e urgente – nos levando a cenas de ação ótimas – embora Tim Miller cometa aqui e ali alguns deslizes de enquadramentos (excesso de “tremedeiras”, as vezes) e alguns efeitos digitais não convençam quando mostram os personagens em saltos e quedas absurdas – mas, no geral, não afetam a movimentação das cenas – a perseguição envolvendo dois enormes aviões do exercito é, sem dúvidas, uma das melhores do ano.
Garantindo ritmo e uma boa imersão com seus personagens marcantes, o filme, narrativamente, só desliza ao inserir soluções forçadas – como a ajuda do Tio de Dani para atravessar a fronteira ou o general que Sarah pede ajuda para poder conseguir armamento – ainda assim, a parte da travessia acaba sendo algum tipo de critica social contra a pouca amigável cooperação dos norte americanos com imigrantes – além de ser atual, isso não diminui o ritmo de ação constante e a boa interação de suas três ótimas personagens principais – além de fazer o T-800 de Arnold ter um papel preciso como coadjuvante – alias, algumas brincadeiras com o óculos clássico do personagem são curiosas, assim como o uso diferente do seu clássico bordão, “eu voltarei”.
Agora se a franquia merece voltar, já não sei dizer ainda. Mas é evidente que este novo futuro traçado é bem melhor do que o que tentaram fazer nos últimos três filmes. Um trabalho que faz jus ao principio tão bem imaginado por James Cameron lá no inicio.