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    Rio
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Rio

    BONITO POR NATUREZA

    por Lucas Salgado

    "Rio de Janeiro, gosto de você / Gosto de quem gosta / Deste céu, deste mar, desta gente feliz”, diz a canção “Valsa de uma Cidade”, de Ismael Netto e Antônio Maria. Belas homenagens ao Rio como esta existem em profusão no mundo da música e versos de canções como “Cidade Maravilhosa”, “Aquele Abraço”, “Samba do Avião” e outras poderiam ocupar a primeira linha desta crítica.

    Já no mundo da sétima arte, as homenagens à capital fluminense não são usuais ou de grande destaque. Sem dúvida, a cidade é a que mais teve filmes brasileiros passados em suas ruas ou paisagens, mas daí a ser homenageada é outra coisa. Talvez Bossa Nova, de Bruno Barreto, seja o longa que chegue mais perto disso, mas ainda sem muita repercussão. Ao menos, até Rio.

    É difícil não gostar da animação de Carlos Saldanha (mente brasileira por trás da trilogia A Era do Gelo e de Robôs), que é uma declaração de amor ao Rio e, sem dúvida, a maior propaganda (em termos de repercussão) já feita da cidade.

    Da mesma forma em que acontecia no francês Orfeu do Carnaval, o excesso de estereótipos talvez seja a grande falha do filme, que abraça fortemente a visão que o americano tem do brasileiro e do Brasil. Assim, temos milhões de referências à samba, favela e carnaval, mas, felizmente, nada muito fora de uma liberdade poética que devemos aceitar em um produto artístico. É importante destacar também que a caricatura do brasileiro também não é gratuita na produção, uma vez que surge para reforçar o contraponto com a visão estrangeira do personagem principal, Blu.

    Blu é uma arara domesticada que leva uma vida pacata e confortável ao lado de Linda, sua dona e melhor amiga, na pequena cidade de Moose Lake, em Minnesota. Ao descobrir que o pássaro é o último macho de sua espécie, Linda é convencida a ir ao Rio de Janeiro para realizar o encontro de Blu com Jade, uma fêmea de sua espécie. O encontro acaba indo de mal a pior quando os dois são sequestrados por contrabandistas de animais ajudados pela cacatua Nigel.

    Apesar de o filme divertir bastante, é preciso reconhecer que a história é simples, como costumam ser as animações da 20th Century Fox. A saga do pássaro que não sabe voar é semelhante à do pinguim que não sabia cantar (Happy Feet - O Pingüim - que não é da Fox, é bem verdade) e de outros bichinhos animados que vão de encontro à sua natureza.

    Os personagens da produção são muito bem construídos, com destaque para o fenomenal trabalho de dublagem. Anne Hathaway (Amor & Outras Drogas), Jamie Foxx (Idas e Vindas do Amor), Rodrigo Santoro (O Golpista do Ano), Will.i.am (da banda Black Eyed Peas), Jemaine Clement (Um Jantar para Idiotas) e Tracy Morgan ("30 Rock") integram o elenco de vozes e se saem muito bem, mas o destaque vai mesmo para Jesse Eisenberg. Indicado ao Oscar por sua bela atuação como Mark Zuckerberg em A Rede Social, o ator realiza um trabalho de voz brilhante, fortalecendo a fraqueza de seu personagem e o deixando, digamos, mais adorável (não conferi a versão dublada em português, então os comentários são em cima da original).

    Rio é um filme cheio de encantos mil e bonito por natureza, a começar pelo ótimo trabalho de animação (é de longe a produção mais bem desenhada da Fox) e passado pela produção musical de Sérgio Mendes, um dos grandes nomes da MPB e provavelmente o que teve a maior carreira nos Estados Unidos. A trilha reúne canções de Will.i.am, Bebel Gilberto, Taio Cruz, Ester Dean, Siedah Garrett, Jemaine Clement e Carlinhos Brown, e se sai muito bem na tentativa de mesclar um ritmo brasileiro - próximo do samba, é claro - com uma batida mais americana, próxima do Hip Hop. Felizmente, o funk ficou de fora em prol de músicas como ""Samba de Orly", "Mais que Nada", "Let me take you to Rio" e "Let's Samba!".

    Outro mérito da produção está na boa utilização do 3D. O formato pode não ser essencial para a trama, mas ao menos é apresentado sem os vícios do mesmo. Com exceção de uma cena ou outra, você não verá coisas sendo atiradas em sua direção a todo momento. É claro que quem conferir apenas em 2D não irá perder nada e poderá aproveitar bem todo o excelente trabalho de animação e coloração do filme. Rio é o típico filme de propaganda de TV de plasma ou LED, é difícil imaginar que existam tantas cores como as vistas aqui.

    Não deixe de comprar sua passagem para este Rio, que vale a pena conhecer mesmo se você já está familiarizado a versão fora das telas. Trata-se de uma aventura festiva e de tirar o fôlego. A fotografia é lindíssima e o filme conta com cenas que exploram muito bem as belezas naturais da cidade, indo muito além do que vemos em séries e, especialmente, em telenovelas nacionais (alguém aí pensou no Manoel Carlos?).

    Já até perdi as contas de quantas vezes usei a palavra "muito" nesta crítica, mas é bom ficar claro: vale MUITO a pena assistir Rio.

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