Somos mais que mutantes
Não sou desses fanáticos por quadrinhos, desenhos, filmes ou adaptações sobre super-heróis, mas sempre tive uma queda pelos mutantes de “X-Men”. E, de todos, Wolverine, por ter a personalidade tão forte e um senso de justiça aliado a um jeito turrão e violento, é o personagem que mais me agrada. Assistia diariamente, antes da aula, aos desenhos que passavam na Globo e, depois, mais crescidinho, continuei a saga nos cinemas, com “X-Men”, “X-Men 2”, “X-Men: Primeira Classe”, “X-Men Origens: Wolverine” e, agora, “Wolverine: Imortal”. Logan, com seu esqueleto coberto de adamantium, suas garras afiadas e sua capacidade de regeneração instantânea, é um dos mutantes mais invejados, inclusive por ser imortal. E Hugh Jackman parece cumprir muito bem a sua caracterização, deixando claro que conquistou o público, além de se mostrar jovial a cada filme – saradão e cheio de gás no alto de seus 44 anos.
E é nessa pegada da imortalidade que o novo filme de Wolverine se move. Vivendo isolado e depressivo desde quando matou sua amada Jean (Famke Janssen), Logan é encontrado por um milionário japonês, cuja vida foi salva por ele durante o bombardeio em Nagasaki. Agora, à beira da morte, o poderoso se oferece para tornar o herói mortal – com a explicação de que o mutante viveria infeliz pela eternidade e que esse cenário poderia mudar com uma vida normal. Mesmo recusando, Wolverine percebe que sua capacidade de regeneração encontra-se comprometida. Foi Víbora (Svetlana Khodchenkova), uma mutante especializada em biologia e também imune a venenos de todo tipo, quem o infectou. Fragilizado, o protagonista começa a sentir na pele a dor e a “delícia” de ser um reles mortal.
Em algumas cenas, você consegue perceber o medo de Logan ao imaginar que pode mesmo morrer, fato desconhecido até então pelo herói. E, por mais que a vida dele esteja rastejante e sem rumo, ele se mostra extremamente preocupado com sua nova realidade. Ninguém quer morrer. Nem eu, nem você, nem seu vizinho, nem seu colega de trabalho, nem o japonês milionário, muito menos o mutante imortal. Entrando nessa onda, por mais que isso pudesse trazer diferenças e problemas na vida real, o dom da imortalidade seria bem-recebido por 100% da população mundial. E, ao perceber que essa possibilidade só existe mesmo nos filmes e nos quadrinhos, você questiona a sua vulnerabilidade diante do mundo. Você não é mutante e está sujeito a qualquer acontecimento ruim, seja acidente, doença, morte natural... E não pense que esta é uma coluna pessimista! Estou realmente bem longe de ser um cara negativo, mas, no meio do filme, me deparei com esses pensamentos: não temos superpoderes e, se até o grandão do Wolverine chegou ao ponto de ter seus medos, pobres de nós...
Pobre de todos nós que temos medo da morte. Há exatos 31 anos, eu e minha irmã Daniele sofremos um acidente de carro inconsequente que quase nos tirou a vida. Deus nos reservou ainda mais tempo, o que não acontece com tantos jovens que morrem tão cedo, deixando um vazio em suas famílias. O que nos restou foi o trauma e o agradecimento ao Bem maior que nos guia e ilumina os nossos caminhos. Não somos Wolverines e, por isso mesmo, temos a necessidade diária de lutar contra os inimigos reais da nossa saúde, de crescer na imortalidade dos nossos planos, desejos e ideais e de desfrutar desta vida passageira como se ela fosse nosso único e verdadeiro troféu. Nessa obsessão por viver mais e cada dia melhor, até os mais poderosos super-heróis morrem de inveja de nós, seres humanos.