WOLVERINE – IMORTAL
Desde seu início nos cinemas há 13 anos, a franquia X-Men tem Wolverine como figura central. Seja no brilhantismo dos primeiros capítulos da franquia, a cargo de Bryan Singer, ou pelas mãos medíocres de Brett Ratner no frustrante desfecho da trilogia, o mutante sempre foi o centro das atenções, atingindo a mesma popularidade que sua versão em celulose graças à atuação sempre perfeita de Hugh Jakman. O sucesso de bilheteria de seu primeiro filme solo, “X-Men Origens: Wolverine”, venceu o fracasso de crítica e a decepção por parte dos fãs, viabilizando “Wolverine: Imortal”, segunda chance para o carcaju em carreira solo.
Ambientado no Japão, o filme teve uma tumultuada pré-produção, desde a desistência do diretor Darren Aronofsky até o tsunami no país. O novo encarregado passou a ser James Mangold (do ótimo western “Os Indomáveis”), que já havia trabalhado com Jackman na comédia romântica “Kate & Leopold” (2001). Originalmente escrito por Christopher McQuarrie, o roteiro baseia-se na clássica minissérie em quadrinhos de Chris Claremont e Frank Miller, lançada em 1982, mas apenas inspira-se nesse material. Na trama(situada após "X-Men: O Confronto Final"), Logan recebe a oferta de um velho conhecido para ir até o Japão e receber a cura para sua imortalidade, como agradecimento. O homem em questão é Yashida, um idoso moribundo cuja vida foi salva pelo mutante durante a 2ª Guerra. Sua neta, Mariko, herdará uma fortuna, tornando-se a pessoa mais importante do Japão. Isso abre caminho para que vários inimigos, inclusive a famosa máfia japonesa, a Yakuza, persigam a jovem, fazendo de Logan sua única esperança.
Como de hábito, Jackman entrega uma excelente performance no papel por ele considerado a espinha-dorsal de sua carreira. A história ajuda dessa vez, dando ao astro espaço para aprofundar o personagem. Seu sofrimento é bem apresentado, apesar das irritantes aparições de Famke Janssen como Jean Grey, morta ao final da trilogia X-Men. É impressionante o fato de o restante do elenco ser inteiramente estrangeiro, algo que só acrescenta credibilidade à produção. É visível a preocupação de Jackman e Mangold de acertar em “Wolverine: Imortal”, fazendo um filme de super-heróis diferente, mais “pé-no-chão”, algo mais voltado para um estudo de personagem.
O roteiro de McQuarrie pincela interessantes elementos presentes na minissérie original, como a inadequação de Logan ao ambiente disciplinado do Japão e o conflito entre sua personalidade animalesca e a honra e tradição da cultura nipônica. Como novidade em relação aos quadrinhos, fala sobre o fardo da imortalidade e o propósito de viver. A trama, porém, reescrita por Scott Frank e Mark Bomback, poderia ser melhor trabalhada. Os vilões são superficiais e não há aprofundamento nos temas abordados.
Quanto aos personagens apresentados, vale destacar Yukio, interpretada por Rila Fukushima. Bastante diferente da versão dos quadrinhos, a personagem funciona por si só, criando uma boa dinâmica como sidekick de Logan.
Entretanto, a versão cinematográfica tem leves poderes mutantes que poderiam ter sido melhor aproveitados.
Sua relação com Mariko também é bastante interessante e original. Esta, por sua vez, é o grande amor de Logan no filme, muito bem interpretada pela modelo Tao Okamoto. A relação entre eles leva a história para frente e é o ponto forte do filme.
Os demais personagens decepcionam, em parte devido ao desenvolvimento fraco. Shingen, pai de Markiko, (Hiroyuki Sanada), um personagem rico em potencial, carece de desenvolvimento para dar peso aos seus atos. Já Harada (Will Yun Lee), é apenas um esboço de personagem. Suas contradições durante a narrativa, em vez de dar profundidade, só mostram o quanto é indefinido. Finalmente, Víbora, interpretada pela russa Svetlana Khodchenkova, é caricata e frustrante, uma supervilã tirada dos anos 90, lembrando a Hera Venenosa de Uma Thurman no horroroso “Batman & Robin” (1997). Suas motivações, assim como as de Harada, nunca ficam claras.
Há um esforço por parte da produção de fazer uma narrativa mais elaborada. Com essa segunda chance, surgiu a oportunidade de mostrar o Wolverine “definitivo”. O grande problema do filme está no exagerado terceiro ato, que transforma esse até então contido filme de super-herói em um espetáculo genérico - muito menos sofisticado, diga-se de passagem (a bela direção de fotografia de Ross Emery vai pro saco na batalha final, repleta de efeitos especiais). Como os caricatos vilões ganham mais tempo de tela justamente no final, é aí que as falhas se revelam ao público. Mangold acabou por fazer um meio termo entre o filme maduro, sombrio e profundo sobre o Wolverine e o espetáculo hollywoodiano necessário no clímax, no confronto com o polêmico Samurai de Prata, muito modificado em relação aos quadrinhos.
Felizmente, é possível ver em vários momentos a qualidade do roteiro original de McQuairre. O belo e delicado romance com Mariko, o brilhante início do filme, retratando Logan selvagem e perdido no Canadá, sem motivação para continuar em frente, ou o excelente flashback em que o mutante salva o jovem soldado Yashida da explosão de Nagasaki mostram como Mangold busca atingir aquele Wolverine essencial, aquele imortal homem-fera
presente nas lendas da infância de Mariko, aquele homem
atormentado pelas pessoas que perdeu ou/e que matou. Ainda não é o Wolverine que queríamos ver, mas chegou perto.
Obs. 1: A cena durante os créditos é altamente recomendada para os fãs, abrindo caminho para o épico “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”!
Obs. 2: Vale a pena rever na versão dublada, só para conferir o trabalho do grande Isaac Bardavid como a clássica voz de Wolverine!