As primeiras lembranças de nossas vidas geralmente envolvem a nossa família e, principalmente a nossa a mãe, ela está sempre ali, presente em praticamente todos os momentos de sua vida, a conexão tão forte quando criança com esta pessoa em algum ponto de seu crescimento se vai e dá lugar há intrigas, reclamações e, até mesmo, brigas desproporcionais.
No seu primeiro trabalho como diretor, Xavier Dolan, que na época da produção do filme tinha apenas 20 anos, nos entrega um filme intimista e envolvente. Dolan interpreta Hubert Minel, adolescente que, assim como a maioria das pessoas nesse estágio evolutivo, enfrenta batalhas diárias com sua mãe e, muitas vezes, sem sentido.
Não é difícil se identificar com o protagonista (ou seria antagonista?), pois ele levanta questionamentos como: onde foi parar aquele amor da infância? Quando as confidências com a sua mãe pararam? Eu mataria por ela, mas eu não consigo parar de “odiá-la” em certos momentos. Nesta fase da vida nós passamos por um turbilhão de emoções e descobertas, confrontar os pais é uma válvula de escape nessas horas.
Os questionamentos e indecisões de Hubert servem para que a audiência entenda que ele não contou algo muito importante de sua vida para a mãe e não sabe como conversa com ela sobre o assunto, a confiança e companheirismo que uma vez existiu não está mais lá para que ele possa dar um passo de fé.
O excesso de close nos atores dá a dica de que o filme foi de baixo orçamento, mas também ajuda a ampliar os elementos que mais incomodam o filho em sua mãe, a forma como ela come e se arruma para o trabalho são os principais desencadeadores das discussões.
Xavier Dolan consegue transparecer a “bipolaridade” de todo adolescente muito bem, hora Humber é histérico e insuportável, fazendo tempestade em copos da água e, quando, necessário ele é um filho carinhoso e prestativo.
A mãe, interpretada pela atriz canadense Anne Dorval, é uma mulher divorciada que trabalha para se sustentar e ao filho. Dorval consegue, ao mesmo tempo, ser serena e passar um ar de cansaço, cansada de sua solidão e saudosa dos momentos que partilhava com o filho, ela também não sabe como e quando os dias de carinho se perderam e deram lugar as desconfianças e silêncios, assim como toda mãe, ela não quer “perder” o seu filho para o mundo.
Um roteiro simples e sem grandes pretensões, “Eu Matei a Minha Mãe” entrega uma história água com açúcar capaz de emocionar.