No último final de semana (25/01), tive a oportunidade de assistir Frankenstein, filme do diretor Stuart Beattie, que também colaborou na elaboração do roteiro. Quem dá folego a experiência de laboratório título é Aaron Eckhart, em meio a uma guerra entre Gárgulas e Demônios, bem ao estilo de Constantine, porém com uma expressão gélida de um ser buscando sentido a sua existência.
De imediato saber que o filme dura 93 min causa certo estranhamento, para os padrões das grandes produções com tramas de mais de 2h de duração, talvez este tenha sido um dos problemas da trama; o pouco tempo pra dar conta de uma história contada há mais de 200 anos.
Os primeiros fatos do relacionamento entre o criador Victor Frankenstein e sua criação não ficam bem estabelecidos, o que acaba por comprometer o entendimento da origem e revolta da criatura. Após esta superar o isolamento forçado causado pelo antagonista, o príncipe demoníaco Naberius, é que começamos a conhecer sua história e partilhar seu ódio, estilo soturno de vida e rejeição que sofreu de todos. O filme consegue destoar do estereótipo do monstro andando congelado dos filmes lado B do terror da década de 20 e 30.
Os efeitos especiais ganham diferencial em cenas que há luminosidade, como no voo dos gárgulas dentro do templo, enquanto estes dilaceravam os demônios que tentavam atacar e capturar Adam. Exatamente, o monstro Frankenstein ganhou um nome na trama, dado pela rainha dos gárgulas, Leonore. Nos demais momentos em que os efeitos eram utilizados em espaços escuros e com baixa luminosidade, estes efeitos passavam desapercebidos.
Uma ressalva a atuação de Aaron Eckhart, que na pele de Adam propôs uma busca por sentido a existência da criatura, experimentando o lado mal de ser uma criatura nascida de outros 8 cadáveres e não possuir uma identidade humana, vagando perante a luz dos ideais dos gárgulas e se aproximando de seu destino; ser o heroi em cena. Em virtude deste, algo contraditório ocorreu na história: o lado negro dos gárgulas apareceu, culminando até na morte de Gideon (braço direito da irmandade gárgula), porém esse conflito não se estabeleceu. Quando nos deparamos com esse ódio de Leonore e a caçada a Adam, no momento seguinte não vemos mais esse sentimento predominar e sim uma aliança improvável surge no campo de batalha.
Algo que não ocorreu foi a trama da origem de Adam se enlaçar de forma categórica com o plano de Naberius, em ter um exército de demônios possuindo corpos reanimados pela técnica que deu origem a Adam. Nesse momento há um "burraco" no roteiro que, ao tentar possuir o corpo de Adam, Naberius se depara com a novidade de que o monstro tem uma alma... pera aí, alma? isso mesmo, o mesmo Frankenstein que busca sentido a sua existência passa a ter alma no fim da trama, mas não há nada antes disso que justifique dizer que em dado momento do filme o personagem desenvolveu sua alma ou ela se apoderou dele de alguma forma.
No decorrer da trama é possível notar que outras pontas foram pouco valorizadas, como é o caso da Dra. Terra e o relacionamento com Adam, que se dosado corretamente possibilitaria um entendimento da "humanização" dele e até da descoberta da alma dele.
Em suma é possível compreender que o roteiro foi criado para mostrar uma batalha épica entre Gárgulas e Demônios, contar a origem e humanização de Adam (Frankenstein), criando assim o mito do anti-heroi sombrio que passa a defensor da humanidade, tornando-se o heroi, similar aos HQs de Marvel.
Pra quem busca grandes reviravoltas e cenas de impacto, este filme não é recomendado, pois cumpre um roteiro simples com poucos objetivos, sendo que o fio condutor da trama tem apenas uma crise de valores durante a narrativa, poucos personagens se estabelecem, há pouca rítmica na história e a energia dos personagens estão em constante queda, o que não prende a atenção do público nos momentos decisivos.