It's alive!
por Francisco RussoNos últimos tempos, virou moda em Hollywood produzir recriações de personagens clássicos sob uma roupagem de aventura e clima sombrio, mesmo que elas tenham um ar de filme B. Com isso, vampiros e lobisomens ganharam terreno na quadrilogia Anjos da Noite, os inocentes João e Maria cresceram e se tornaram caçadores de bruxas e, agora, chegou a vez de Frankenstein. Para os puristas, trata-se de sacrilégio com o material idealizado por Mary Shelley. Entretanto, é justamente a recriação do personagem o que há de mais interessante neste Frankenstein - Entre Anjos e Demônios.
Para começo de conversa, é bom avisar: o filme viaja bastante! Senão vejamos: após um breve prelúdio onde a origem do personagem é retratada, o filme logo apresenta o duelo central da história: demônios contra gárgulas. Sim, gárgulas que se transformam em humanos e estão a serviço de Deus, protegendo os humanos de nascença. A disputa nada mais é do que uma nova representação do clássico duelo do bem contra o mal, com Frankenstein no meio do tiroteio. Para as gárgulas, ele é quase profano, já que é um ser (o único!) que não nasceu a partir das mãos do criador. Para os demônios, é uma experiência muito interessante que pode servir para os planos malignos de dominação do planeta. Solitário, o monstro ganha nome – Adam, referência explícita ao primeiro homem descrito na Bíblia – e vaga mundo afora por 200 anos, até os dias atuais. É quando a derradeira (?) batalha enfim acontece.
Há alguns aspectos conceituais nesta recriação de Frankenstein que chamam a atenção, como a interessante representação visual do que acontece com demônios e gárgulas, após serem mortos em batalha, e a bela sacada sobre a sede das gárgulas: a catedral de Notre Dame, belíssima, com seus vitrais explorados à exaustão pela fotografia. Da mesma forma, o clássico “it’s alive!” do Frankenstein original, aquele estrelado por Boris Karloff em 1931, ganha espaço nesta recriação. Por outro lado, trata-se do primeiro Frankenstein com covinha na história do cinema! Por mais que Aaron Eckhart tenha cicatrizes no rosto, trata-se de uma maquiagem muito mais suave do que a usual para o personagem. Outro deslize se refere à movimentação do monstro: apesar de Eckhart repetir seu andar pesado, esta característica bate de frente com a agilidade demonstrada nas lutas, especialmente no combate com bastões. Incoerência maior só mesmo na cena em que surge o “rato-Frankenstein” com cicatrizes no corpo - as cicatrizes existem porque Frankenstein foi criado a partir de oito cadáveres, não por simplesmente ter ganho vida em laboratório!!!
Entretanto, o grande problema de Frankenstein – Entre Anjos e Demônios é mesmo sua história. Ou melhor, seu fiapo de história. O filme não apresenta muito além do que está descrito dois parágrafos acima, cobrindo as lacunas de roteiro com cenas de ação. Algumas delas até são interessantes, estilosas ao extremo, mas com o passar do tempo se tornam triviais, já que as poucas novidades apresentadas se esgotam em meia hora. O que é uma falha crucial para um filme de apenas 93 minutos.
Frankenstein – Entre Anjos e Demônios é um filme B escancarado e, justamente por assumir sua falta de pretensão, não chega a ser uma bomba. Para quem curte diversão descerebrada com um toque sombrio, pode até ser uma boa pedida. Um detalhe curioso é o ar carola que ronda a história, devido à tensão existente entre os gárgulas por Frankenstein não ter sido criado por Deus. Por mais que o filme não seja religioso, o fato das gárgulas representarem o bem já dá um bom indício da mensagem subliminar que ele acaba transmitindo.