“A CASA DOS SONHOS”, O SER EM SI E O MUNDO ESPIRITUAL
Atendendo a indicação de uma amiga, Tatiana (da Clínica Tao) vi esse filme e agora descrevo um pouco de seu enredo e segredo. Indicado seis vezes ao Oscar, do diretor Jim Sheridan, “A Casa dos Sonhos” supera a expectativa, quando ao se deparar com uma história de clichê em seu início, acaba por se assustar com o rumo que a história toma da metade até o final. O ator Daniel Craig se supera quando contracena com a atriz de “Alexandria” como esposa, e tendo como vizinha e melhor amiga a atriz que certa vez tinha sido protagonista em “O Chamado”. O personagem central está tão mergulhado na família perfeita burguesa e capitalista, que esquece do seu passado sombrio, que na verdade é revelado no final do drama, e que nos faz a todo momento questionar a sua ética e se ele mesmo é quem é.
Me lembrou um outro filme, aquele de produção espanhola, chamado “Hipnos” onde uma moça vai trabalhar em clínica psiquiátrica e não sabe se é também louca. Em “A Casa dos Sonhos” o protagonista descobre que ele estava internado e que ele era o vilão, ou pelo menos era acusado como tal, pelo assassinato de esposa e duas filhas, ainda pequenas. O diferencial da trama é que se pode resumir em uma palavra do ramo filosófico: solipsismo. Calma, leitores inteligentes: apenas se refere esse termo que a individualidade é tudo, que tudo está dentro da mente e não há realidade fora de nós. No caso a realidade toda estava no pai de família da história. Isso lembra a filosofia de Descartes, onde “penso: logo existo”. Para mim é também penso: logo todas as coisas existem. Esse é o clima do filme, onde a realidade é toda nessa casa formada pela mente do personagem que de herói passa a vilão e vice-versa.
Outro enfoque que eu queria visar é o espírita. Muitas almas após morrer ou desencarnar acabam por ficar perdidas, vivendo como se ainda vivas fossem, com seus afazeres diários, convívios e próximas a pessoas com que conviviam. Mas a verdade vem aos poucos e as coisas desaparecem, ou se transformam: a pessoa descobriu que morreu. Outro filme já revela bem essa dinâmica, “Amor Além da Vida”, onde a mente de cada pessoa e sua consciência produz no mundo espiritual a sua realidade, seja essa sombria ou paradisíaca. Em “Nosso Lar” ocorreu essa falta de perspectiva de criação mental, e as pessoas parecem cair de pára-quedas no plano espiritual, com seus espíritos guias e sua medicina especial e tratamentos de transformação.
Mas “A Casa dos Sonhos” surpreende por defender esse enfoque, que pode ser interpretado também como simples esquizofrenia de seu protagonista, que resolveria toda a situação em alucinação. Outro filme nos aproxima esse enfoque, que é “Uma Mente Brilhante”, onde a realidade mental do homem se mistura a realidade, gerando um homem perdido entre dois mundos, apesar da genialidade. Aqui o herói passa a ser o vilão em “A Casa dos Sonhos”, depois salva a situação e se encontra com vingadores, que querem justiça pela própria mão, em total equívoco, e que se dão mal. A fita vale à pena, e tem todo o aconchego familiar contrastando ao drama de um homem que desafia seu passado e que questiona sua identidade, percebendo um mundo paralelo que lhe compensa a perda da mulher e duas filhas, em um crime brutal de assassinato. Salva a sua vizinha e o filme sugere uma continuação, pois incendiada a casa, não sabemos se mentalmente ainda vive a família muito amada do personagem central, ou se este acaba seu livro que chama: A Casa dos Sonhos. Um filme de qualquer forma diferente, apesar dos comparativos que fiz com esses outros que citei. (Mariano Soltys, autor de livro Filmes e Filosofia)