Deve ser o maior barato fazer roteiro de Star Trek. Essa equipe deve se divertir tanto, são tantos rumos a se explorar, tantas sequências, tantos trâmites novos na história... Esse segundo filme é ainda mais imprevisível que o primeiro. E rigorosamente bem realizado.
Ao contrário do que sugeria os trailers do filme, ele não é "mais sombrio", de forma alguma. Ele vai "into darkness", mas a essência tão bem feita por J. J. Abrams do primeiro filme está ali. Um blockbuster com tudo o que um bom exemplar do gênero tem que ter. E não falta ação, é desenfreada mesmo, o filme nunca para pra dar um respiro. O humor ácido está lá, e o mais importante: os diálogos, tão significativos, também continuam lá. Existem várias, várias cenas em que aqueles quotes famosos saltam aos nossos ouvidos.
É muito bom ver que esse filme é praticamente uma continuação direta do primeiro. E ambos se completam como nunca. Aqui, depois do final do primeiro filme, podemos acompanhar o desenvolvimento dessa amizade de Kirk e Spock pra algo muito maior, e mais uma vez, eclipsando o vilão, eles são o grande ponto. A forma com que um completa o outro, e as cenas-chave em que isso é demonstrado nesse longa, é o que me faz gostar tanto dessa franquia.
Mas ao falar que o vilão fica um pouco de lado, não quero dizer que ele é pouco importante. Muito pelo contrário. Benedict Cumberbatch é o mau encarnado. E o ator está fenomenal. O êxito de seu personagem, entretanto, deve-se ao roteiro que vai apresentando todo o plano do vilão, e todas as suas motivações, bem ao pouco. O filme nunca cai de qualidade por causa disso. Os outros atores seguem a mesma linha do primeiro filme, estão muito bem. Mas o destaque, dentre esses, fica mesmo, mais uma vez, pra Zachary Quinto, que brilha em pelo menos 3 cenas e mostra, mais uma vez, que é o melhor ator da franquia.
O que pode existir de ponta solta no filme é uma personagem: Carol Marcus, que é, sim, tratada com um pouco de negligência pelo filme em si. Em suma, ela deveria ter uma importância maior do que tem pra justificar sua existência. Seu elo de ligação com um outro personagem no filme soa, por vezes, um tanto quanto superficial e desnecessário. O bom aqui, é que o filme se encarrega de não deixar isso afetar os outros personagens, e, sabendo da fragilidade contida, não se alonga no discurso.
No que diz respeito à parte técnica, só há elogios. Dos efeitos aos figurinos, a impecabilidade reina. Passando por uma fotografia deslumbrante e uma montagem sensacional. Montagem, essa, que talvez seja o grande destaque da direção de J. J. Abrams nesse filme. É uma noção muito legal do corte de cena, cenas que se interligam visualmente de forma deslumbrante. É bonito de se ver, mesmo, quando por exemplo, o homem influenciado por John Harrison joga o anel dentro do copo (que gera uma explosão gigantesca), e, na sequência seguinte, Kirk aparece atirando um gelo dentro de um copo. No mesmo ângulo. E não há como não notar uma piscadela de olho bem indiscreta, por assim dizer, a Stanley Kubrick e "2001: Uma Odisseia no Espaço" no fim da sequência inicial, que deixa qualquer cinéfilo com um sorriso no rosto.
Acredito que Além da Escuridão funcione como uma extensão do Star Trek de 2009, inclusive na excelência, como não poderia deixar de ser. Um completa o outro, e as referências não param de pipocar na tela um segundo, me deixando um tanto confuso sobre o entendimento daqueles que vão assistir a esse segundo filme sem ter visto o primeiro. Por isso é altamente recomendável ver o anterior, antes. Principalmente porque a estrutura narrativa quebra completamente do que havia sido apresentado. Há um giro de 180º aqui, e dessa vez, por exemplo, ao contrario do que houve antes na história, a USS Enterprise está REALMENTE em perigo. É tudo muito iminente, aquele famoso instinto de sobrevivência, o "correr contra o tempo" está bem mais evidente aqui.
Confesso que por um momento, achei que J. J. iria ser ainda mais ousado nessa franquia com o que acontece com o Kirk no terceiro ato do filme. E eu tava gostando muito dessa ideia, até. Mas me traí ao sentir um alivio gigantesco quando notei que o caminho do filme não era esse, e que toda a sequência era um truque. No fim, torci pro filme ser óbvio... A agradeci por essa obviedade!
Mais uma vez pude sentir toda a emoção que senti ao ver o primeiro filme dessa nova franquia trekker. Foi bom demais matar a saudade desses personagens, e, já me vejo assistindo e reassistindo a esse filme várias vezes como fiz com outrem. Em pensar que eu não estava gostando dos trailers... isso é bom pra não mais duvidar enquanto J. J. Abrams estiver à frente da franquia. Então fica o meu apelo: volta pro terceiro filme, Abrams! We need you! :
PS: A participação do Leonard Nimoy foi tão inesperada pra mim que eu dei um pulo na cadeira hahahha Foi demais! Principalmente naquele ponto do filme... E com o propósito que teve. É a alma de Star Trek ali, falando e aconselhando. Genial!