O Lado Bom da Vida | Crítica
É uma das marcas de David O. Russell (O Vencedor) dar espaço aos atores, sem grandes interferências. O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook), seu novo filme, repete essas intenções, deixando rolar as fantásticas interações entre Bradley Cooper (Se Beber Não Case) e Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes), que anda a passos largos para tornar-se a melhor atriz de sua geração em Hollywood.
O Lado Bom Da Vida é um longa que foge dos clichês narrativos, flertando com algumas facetas sobre limites dos relacionamentos e tratando de forma leve e sensível as formas diferentes que as pessoas lidam com os fins e suas próprias instabilidades mentais e sentimentais.
Pat Solatano Jr. é um homem que ficou cerca de oito meses internado em um hospital psiquiátrico diagnosticado com bipolaridade. Ele já demonstrava alguns sintomas do transtorno antes de ter uma crise de violência após encontrar sua esposa com o amante no chuveiro da sua casa. Durante esses meses, Pat assiste à tratamentos de positividade e auto-estima, além dos medicamentos que não gosta de tomar. Recém-saído da internação, o ex-professor se muda para a casa dos pais e tenta se reconciliar com sua ex-esposa, Nikki. As coisas ficam difíceis para Pat quando ele conhece Tiffany, uma garota com seus próprios problemas.
Esse filme não é de Tiffany, personagem de Lawrence, mas ela rouba a cena com uma facilidade que sua segunda indicação ao Academy Award é compreensível. Ela domina o filme. Todas as cenas em que ela aparece pertencem a ela, ela rouba a câmera para si. Mal se vê a hora de ela surgir, novamente irritando o personagem de Bradley Cooper. Ela rouba a cena até mesmo quando a divide com Robert De Niro. Tiffany é sexy. Engraçada. E um tantinho louca. Seu olhar é o pedido de socorro de uma pessoa capaz de reconhecer sua natureza destrutiva. Méritos também ao excelente trabalho de Bradley Cooper, que se mostra capaz de grandes atuações. O elenco de apoio também brilha - é reconfortante ver Robert De Niro, como o pai obsessivo-compulsivo de Pat, em sua melhor forma desde as parcerias com Scorsese, e reencontrar o desaparecido Chris Tucker, sempre hilário. A cena da aposta, em que o quarteto divide o quadro, falando todos ao mesmo tempo, é fantástica.
São cenas como Pat tentando ler toda a lista de livros que sua mulher ensina em literatura em pouco tempo e no meio da noite ficando irritado com o pessimismo de Ernest Hemingway, acordando todos na vizinhança ou quando se encontra com Tiffany em uma lanchonete onde ambos causam uma cena caótica tentando provar um para o outro que não são malucos, que fazem o espectador dar algumas risadas sobre a inconstância de ser humano.
Com uma trilha sonora de tirar o chapéu, incluindo uma cena incrível ao som de “What is And What Should Never Be”, do Led Zeppelin. “My Cherie Amour”, de Stevie Wonder, é a faixa mais importante do filme, trazendo lembranças ruins para o personagem principal. É engraçado imaginar que uma música dessas seja capaz de despertar tanta fúria em uma pessoa. E por fim, o clímax com a verdadeira cena musical de O Lado Bom da Vida evoca os momentos do independente Pequena Miss Sunshine e Tudo Acontece em Elizabeth Town. Uma ótima história, madura, diferente de todas essas comedias dramáticas/românticas. Vale muito apena acompanhar.