Lançado para substituir o fenômeno teen Crepúsculo e dirigido por Gary Ross, o longa Jogos Vorazes (The Hunger Games), chega aos cinemas sem muito comprometimento, mas acaba sendo salvo por sua mensagem e seu roteiro excelente.
O longa dos estúdios Lionsgate, adaptado de livro homônimo de Suzanne Collins, nos apresenta uma história de distopia futurística, na qual o país Panem é dividido em doze Distritos, os quais são comandados com mãos de ferro pela famigerada Capital, numa espécie de ditadura política. O nosso principal ponto de vista é a personagem Katniss Everdeen, que vive no pobre Distrito 12 — protagonizada pela talentosa Jennifer Lawrence —, que se vê obrigada a se oferecer como tributo no lugar de sua irmã quando esta é enviada aos Jogos Vorazes: uma espécie de reality show sádico para o qual duas crianças de cada distrito são enviadas para se digladiarem até a morte, um entretenimento em particular da Capital, e algo feito para lembrar aos Distritos dos Dias Escuros, uma época na qual todos se rebelaram contra a Capital.
Em certos momentos, vê-se uma insegurança do estúdio quanto ao produto, e isso é visivelmente perceptível quando elementos feitos de CGI (efeito especial), entram em tela. Quando um aerodeslizador — como as aeronaves do longa são chamadas — aparece, é acompanhado de uma tela ao fundo tão iluminada que chega a quase nos cegar, fazendo com que se possa ver apenas a silhueta da aeronave. O mesmo acontece com os bestantes — monstros —, que aparecem no final do filme; a cena ocorre ao anoitecer, quando a câmera é jogada para as criaturas a fotografia escurece, e vemos apenas a silhueta dos monstros. Apesar de tudo isso, percebe-se que tanto aeronave quanto monstros não foram finalizados muito bem, oque torna viável a técnica usada para disfarçar o CGI mal feito, o que faz pensar que o estúdio Lionsgate — que não é um dos maiores de Hollywood — não queria investir muito no longa, temendo que fracassasse e consequentemente desse prejuízo.
A temática política que serve como base para a trama é bem desenvolvida e aproveitada; o diretor, Gary Ross, alterna entre cenas no Distrito 12 e a Capital, reforçando as diferenças sociais, a pobreza no Distrito principal, e os exageros e os costumes extravagantes da Capital. A fotografia é boa, contudo, não tem nada de surpreendente. O núcleo de personagens conta com bons e talentosos atores, como Donald Surtherland, que antagoniza o presidente Snow, e Woody Harrelson, que dá seu carisma ao alcóolatra Haymitch Abernathy.
Já que o público alvo são os adolescentes, que em sua maioria beberam da franquia Crepúsculo, o longa tem, assim como o seu antecessor, um triângulo amoroso, formado pela protagonista Katniss, seu melhor amigo Gale (Liam Hemsworth), e seu companheiro tributo Peeta Mellark (Josh Hutcherson), que usa como estratégia para sobreviver aos Jogos um romance com Katniss.
As cenas de ação que ocorrem são realmente rápidas, já que Ross optou usar para elas uma câmera de mão que balança tanto que faz parecer com que o diretor tenha mal de Parkinson. Porém, apesar disso, um leve suspense norteia a trama, prendendo o espectador na cadeira, até o grande final; ponto alto para o desenvolvimento da personagem Katniss, que contem uma excelente humanização; suas dúvidas, decisões e certezas atraem ainda mais o público para os braços do longa.
No geral, Jogos Vorazes cumpre com o prometido: agrada o público alvo e leigo, aos fãs do romance Crepúsculo e os já fãs dos livros de Collins provavelmente vão adorar o longa. É um filme divertido de se ver, se quebra em alguns momentos com sua direção fraca que não parece confiar em si mesma, mas conta com uma excelente reviravolta, com nada de surpreendente nem impactante, apenas um bom começo para uma nova franquia.
Nota: 7,5/10