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    A Dançarina e o Ladrão
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    A Dançarina e o Ladrão

    Caldeirão melodramático

    por Bruno Carmelo

    Muitos cinéfilos já viram algum filme em que um cavalo magro, azarão, reconhece aquele que lhe salvou a vida há décadas, e mostra-se subitamente robusto e potente. A maioria também consegue se lembrar de algum filme com uma personagem frágil, na qual ninguém deposita esperanças, mas que surpreende ao subir nos palcos e cantar/dançar de maneira espetacular. Ou ainda uma cena em que ladrões inexperientes executam o roubo do século num prédio rico e muito seguro.

    Isso sem falar nos filmes com personagens que cavalgam em planícies cobertas de neve, naqueles com mocinhas prostituídas salvas pelo amor de um príncipe, em outros no qual a ditadura é representada pela metáfora de dois amantes separados, naqueles em que dois homens muito diferentes tornam-se grandes amigos, e arriscam sua vida um pelo outro, naqueles em que uma pessoa, emudecida após um trauma, redescobre a fala por causa do amor, ou ainda aqueles de meninos abusados sexualmente por adultos, em busca de vingança. A grande diferença é que, em A dançarina e o ladrão, todas estas cenas aparecem num filme só, em 127 minutos de projeção.

    Mesmo sem saber que se trata de uma adaptação literária, o espectador pode começar a suspeitar que a trama rocambolesca venha de uma história mais extensa. Sem ter lido o livro que deu origem à trama, dá para imaginar que se trata de um material quase épico, tentando somar o impacto dos gêneros policial, melodrama, romance, faroeste... Inútil detalhar a sinopse, basta dizer que se trata do encontro entre uma jovem dançarina e dois homens que saem da prisão (difícil saber qual dos dois é o "ladrão" do título).

    A dançarina e o ladrão, ou "O baile da vitória", no título original, tenta combinar as imagens típicas de todos esses gêneros populares. O que poderia resultar numa colagem interessante (basta pensar em O Segredo dos Seus Olhos, que também funcionava com a mistura de gêneros), torna-se um mural incrivelmente absurdo - pelo menos ninguém vai reclamar de previsibilidade neste caso aqui.

    A narrativa, aliás, adota quase todos os elementos que o mais básico dos manuais de roteiro diz para evitar. Os personagens verbalizam seus sentimentos ("Como estou triste!"), seus pensamentos ("Ah, como ela está bela hoje!"), informam-se sobre coisas que ambos os envolvidos já sabem, para dar informações ao espectador ("Você está nesta prisão há cinco anos, não deve ser fácil"), e constroem personagens apenas com a fala, sem mostrar em imagens as características de cada um (todos os personagens insistem que Vergara Grey é o maior ladrão do mundo, mas nunca vemos este homem em ação). Somam-se ao roteiro a montagem precária, a iluminação kitsch das cenas noturnas, a trilha lacrimosa...

    Estas opiniões podem dar a impressão de que este é um filme detestável, mas não é nada disso. Ele é apenas muitíssimo amador, involuntariamente cômico. De fato, chega a ser engraçado embarcar numa trama tão desprovida de sentido, que atira para todos os lados, que parece querer deglutir de uma só vez todos os romances clássicos da história. Alguém ainda tem que explicar como Ricardo Darin, ator experiente, de filmes ótimos como Abutres e Um Conto Chinês, resolveu entrar nesta roubada. E como os produtores, lendo este roteiro, olharam-se entre si e decidiram: "Ótima escritura. Vamos reunir alguns milhões de euros e realizá-lo".

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