Colcha de retalhos
por Lucas SalgadoEngana-se quem pensa que o crítico vai assistir qualquer filme disposto a não gostar, principalmente em se tratando de uma produção adaptada, baseada ou inspirada em obra com uma grande base de fãs. São tantos ataques pessoais, tantos xingamentos gratuitos, tanta dor de cabeça, tantos cabelos brancos ganhos que tudo que o crítico mais quer é gostar do filme. Mas tem vezes que não tem jeito. Toda esta introdução, talvez desnecessária, para dizer que este é o caso de Esquadrão Suicida. Não teve jeito.
O filme começa do ponto em que Batman Vs Superman - A Origem da Justiça termina. Temendo novas ameaças da força do Superman ou do Apocalypse, o governo americano decide colocar em prática um ambicioso plano de Amanda Waller (Viola Davis). Ela selecionou uma série de temidos criminosos e está convencida de que pode formar um time para combater forças sobre-humanas.
Os escolhidos são Pistoleiro (Will Smith), Arlequina (Margot Robbie), Bumerangue (Jai Courtney), Diablo (Jay Hernandez), Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje) e Magia (Cara Delevingne), que se juntam a duas peças das forças do governo, Rick Flag (Joel Kinnaman) e Katana (Karen Fukuhara). Forma-se assim o Esquadrão Suicida.
Após as críticas recebidas por Batman vs Superman e o sucesso de filmes como Deadpool, Esquadrão Suicida passou por um processo de remontagem, que contou até com a filmagem de novas cenas. Não dá para saber como seria a versão original, mas parece claro que este novo corte podou muito a personalidade do longa e passou a cara de que estamos diante de uma colcha de retalhos.
Isso é muito claro na primeira meia hora da produção. As introduções são apressadas e aborrecidas, salvo em um caso ou outro. Um problema claro da edição de John Gilroy são os cortes bruscos e súbitos. Ele parecia estar trabalhando para Michael Bay, nem sombra do profissional responsável pelas montagens de O Abutre, Círculo de Fogo e O Legado Bourne.
A direção e o roteiro de David Ayer pouco ajudam. Ele parece decidido em fazer um longa sobre um time, mas foca toda sua atenção em apenas dois personagens. Dar mais importância e tempo em cena a Will Smith e Margot Robbie é algo óbvio, afinal são os mais conhecidos e talentosos do time, mas falta um melhor equilíbrio. É só pensar no recente Caça-Fantasmas. Todo mundo só conhecia Melissa McCarthy e Kristen Wiig, mas ganhou a possibilidade de se apaixonar por Kate McKinnon e Leslie Jones.
O grande destaque do filme é Margot Robbie. Linda, divertida, traumatizada, fatal e perturbada, a personagem é complexa e dá a possibilidade da atriz roubar a cena sempre que aparece. Neste caso específico, cabe destacar que o roteiro não foge de deixar claro que Arlequina é vítima de um relacionamento abusivo. Ela não namora o Coringa. Ela foi transformada e violentada por ele.
Chegamos então nele... Sim, o Coringa. Pois bem, assistindo ao filme parece surreal que teve gente falando que Jared Leto superaria Heath Ledger, quando na verdade ele é um Coringa pior que Jack Nicholson e até Mark Hamill. Com as histórias dos bastidores e participações em programas de entrevistas, a impressão que fica é que Leto foi um melhor Coringa na vida real do que no longa. Como conhecemos a história pregressa do personagem, a gente sabe do que ele é capaz, mas em cena temos uma figura unidimensional e pouco interessante. A Arlequina está sempre melhor longe dele.
Will Smith também está bem. Do grupo, o Pistoleiro é o que mais ganha tempo em cena e realmente protagoniza momentos de ótima ação. O resto do time é praticamente todo desperdiçado, seja por pouco tempo em cena (Crocodilo), seja pela completa ausência de talento de atores como Delevingne e Courtney. Por sinal, é difícil entender como o ator conseguiu espaços em franquias como Duro de Matar ou O Exterminador do Futuro. Embora seja fácil entender como ajudou a encerrar estas franquias.
Além de Margot e Will, cabe destacar a presença de Viola Davis. Ela cria uma Amanda que deixaria até sua personagem em How To Get Away With Murder com medo. Ameaçadora 100% do tempo, Waller se impõe diante de figuras muito mais fortes fisicamente do que ela. Ben Affleck surge rapidamente como Batman/Bruce Wayne, mas dá seu recado e temos ainda uma participação especial de um outro membro da Liga da Justiça.
Suicide Squad (no original) contou com uma incrível seleção musical, mas com uma trilha sonora que não funciona. A impressão que fica é que estamos diante de uma ótima playlist por Spotify, mas que não se encaixa na produção. Os fãs da DC irão odiar a comparação, mas fica clara a tentativa de fazer o que Guardiões da Galáxia fez em sua trilha. Só não foi bem sucedido na missão. O que é uma pena, pois as músicas são ótimas.
Parte da trilha, inclusive, já havia sido ouvida nos trailers. Aqui cabe uma observação: as melhores cenas de Esquadrão Suicida, as melhores interações entre os personagens, tudo já tinha sido divulgado nos trailers, teasers ou comerciais. Não sobrou nenhuma boa surpresa para o espectador. A única surpresa, mas esta negativa, é o quanto o filme é uma bagunça.
Não foi dessa vez que a Warner acertou o tom com seus heróis NESTA NOVA SAGA (afinal a trilogia Nolan é incrível). A única regularidade obtida pelos produtores tem sido nos defeitos. O excesso de CGI continua, a fotografia segue muito escura e o 3D é completamente dispensável.
Agora a bola passa para Mulher-Maravilha. A personagem foi a melhor coisa de BvS e o trailer parece incrível. Mas o trailer de Esquadrão também parecia. Parecia.
OBS: Há cena importante durante os créditos finais.