Depois de inovar o cinema com Matrix (1999) e apresentar ao público o frenético Corra Lola, Corra (1998), se tornou quase que impossível para que os irmãos Wachowski e o diretor Tom Tykwer superassem suas respectivas obras, criando algo no mesmo nível de loucura, diversão e genialidade.
Eis que muitos anos mais tarde os diretores se encontram para dar vida ao romance literário de David Mitchell, A Viagem (Cloud Atlas), em cartaz nos cinemas.
De forma mais do que empolgante o filme possui seis segmentos que aborda os mais diferentes temas dentro dos mais variados gêneros, e nos mostra como um pequeno e até mesmo desnecessário fato pode sobreviver ao tempo e tornar algo astronômico causando uma grande revolução.
O longa é uma obra de ficção, mas que se sobressai pela forma delicada de nos contar através de opostos, "amor/ódio", "verdade/mentira", "razão/emoção", "fé/descrença", "nascimento/morte", "passado/futuro", como tudo o que fazemos, cada passo que damos, cada atitude que tomamos, define quem somos e controla a nossa VIDA, e como isso ultrapassa as barreiras do espaço e do tempo, conectando, pessoas, lugares, fatos, épocas distintas de forma inexplicável.
O elenco é um dos mais completos: Tom Hanks, Halle Berry, Susan Sarandon e Hugh Grant que andavam meio sumidos estão de volta. Hugo Weaving que viveu o Agent Smith na trilogia Matrix volta a trabalhar com Lana e Andy Wachowski e, o veterano Jim Broadbent dispensa comentários em um dos personagens mais divertidos e que traz uma certa leveza e momentos de risadas na trama. O "novato" Jim Sturgess que vem colecionando elogios depois de trabalhos como em Across The Universe (2007) se junta a outro novo e talentoso artista que recebeu muitos elogios pelo seu personagem em 007 - Skyfall (2012), Ben Wishaw.
O filme não recebeu nenhuma indicação ao Oscar deste ano em partes técnicas (vai entender a Academia), mas levou o prêmio de Melhor Maquiagem no 18º Critics Choice Movie Awards, onde os premiados são escolhidos por um juri formado por críticos especializados no assunto, e não é pra menos, o trabalho artístico visto aqui é um dos mais meticulosos, partindo de um figurino da época de 1849 até chegar aos cenários futuristas, as cenas são estonteantes e de enxer os olhos. A maquiagem é um fato a parte, um trabalho primoroso e mais do que surpreendente, que realmente mereceu o prêmio por conseguir transformar os atores e deixa-los irreconheciveis.
A trilha instrumental é assinada por Johnny Klimek, responsável pela trilha de One Hour Photo (Retratos de uma Obsessão, 2002), Reinhold Heil que criou a trilha para o filme Land of the Dead de George A. Romero (Terra dos Mortos, 2005) e pelo próprio Tom Tykwer que também cuido da trilha de Run Lola Run (1998), é brilhantemente orquestrada e conduz cada uma das cenas de forma plausível, envolvendo e cativando ainda mais o espectador em cada minuto da trama.
Como já dito, mesmo sendo baseado e uma obra literária, o segmento passado no futuro possui muitos artifícios que se torna impossível não compara-los ao Matrix, as cenas de ação e perseguição são idênticas, o personagem de Sturgess, fisicamente e a própria caracterização lembram o personagem Neo, entre outros detalhes, mas essa observação é apenas como uma curiosidade, já que isso não atrapalha o filme, pelo contrário, talvez tenha sido idealizado com o propósito de atrair o público de The Matrix.
Com um orçamento na casa dos US$100 milhões muito bem utilizados, e com aproximadamente 2 horas e 50 minutos de duração, a ideia de utilizar diversos gêneros cinematográficos que viaja da comédia ao suspense, do drama a ficção, e desenfreadamente muito bem editado, o filme se torna prazeroso, ao contrário do que se imagina devido a sua extensão.
Resumidamente em um paragrafo, A Viagem é simplesmente inacreditável e imperdível, uma obra única, singular, que fará com que o espectador saia de sua exibição refletindo sobre os mais diversos assuntos, da política até sua própria vida, e os idealizadores dessa obra inigualável mais uma vez inovam e surpreendem.