Não que seja estranho oque me aconteceu hoje - e me perdoem se eu poetizar demais -, mas fui invadido por um sentimento inexplicável ao assistir o já longo filme "A Viagem". O novo longa dos irmãos criadores do ícone "Matrix" já mostravam ousadia desde os primeiros vídeos do filme assistidos por curiosos cujos pensamentos perguntavam se eles conseguiram fazer isso ter sentido. Tantos atores em diversas épocas diferentes, aparentemente interpretando diferentes encarnações de si mesmo e, inclusive, outros atores interpretando determinadas encarnações dos primeiros. Bem, se já foi complicado de ler, quando vc tem algum tempo pra analisar, imagina assistir a isso tendo que estar preparado pra cada sinal, fala, detalhe pra chegar a tentar a fazer sentido? Sem ilusões. Pra maioria, não vai fazer!
Dizem que a arte é muito extensa, que a interpretação da mesma depende de experiência de vida, escolaridade, idade, posição social, emprego, orientação sexual, sexo, atividades e rotina, estilo, religião, nacionalidade, estado de espírito, paciência, cidade e região da mesma em que vive. Sim, isso tudo pode ser verdade (com exceções!), mas várias vezes depende do querer entender e se questionar quanto à informação obtida. Se deixar envolver por aquele ritmo proposto. Acredito que começo a fazê-los entender oque se passou comigo sábado último!
Se você me perguntar "e aí cara, qual é do filme?", reponderei "é lindo e a moral é que não somos donos das nossas vidas e que muitas coisas aconteceram pra você estar aqui e que continua após a sua morte. Estamos todos conectados numa rede de eventos por vidas a fio." Beleza, precisa de muito tempo pra isso!? Talvez não, mas Andy e Lana Wachowski já não mostrado muita humildade e intimidação desde que em 1999 lançaram um divisor de água que seria, por anos, copiado. E a interpretação de ousadia toda vai depender, claro, do gosto de cada um!
Muitas coisas são indiscutíveis quanto ao filme por pessoas que procuram mais atender desse universo de filmes. Aliás, só uma. A parte técnica. Fotografia linda, interpretações comoventes e pautadas (os caras meio que devolveram um pouco da moral do Tom Hanks), maquiagem merecedora do Oscar e (ahhh...) trilha sonora! A bela sinfonia constante e presente durante todo o filme emociona por si só. Te traz presença sem que você tenha certeza do que está sentindo. Te dá sentido mesmo que você não possa explicar com palavras. Em resumo, a trilha me fez sentir fé! Fé de que mesmo que quase nada seja esperançoso nesse mundo, tentamos várias vezes. Se, ao fim da vida, não nos preenchermos, teremos outras oportunidades de consertar oque fizemos. Religioso? Entenda como quiser, eu mesmo nunca encontrei nenhuma crença organizada que me atasse e convencesse.
"Cloud Atlas", no original, não é um filme cujos realizadores estão muito afim de deixar coisas claras pra quem assiste. Vire-se! Ou, como acontece diversas vezes no filme, deixe pra outra vida. Os irmãos e seu novo parceiro Tom Tykwer ("Corra, Lola, Corra", "Perfume - A História de um Assassino") não são os únicos a não se sentir na obrigação de dar sentido ao público! Filmes de diretores como Michael Haneke ("Caché", "A Fita Branca"), irmãos Coen ("Onde os Fracos não tem vez", "Matadores de Velhinha"), Stanley Kubrick ("2001: uma odisséia no espaço"), Lars von Trier ("Anticristo", "Melancolia") e até Matheus Nachtergaele ("A Festa da Menina Morta") foram sucesso de crítica e, alguns, de público e ninguém pareceu conseguir explicar muita coisa. Se sente, não se explica! Ou seja, cinema é arte!
Poderia me redundar falando sobre o quanto Hollywood está ruim, mas logo focarei que mesmo, aparentemente, não tendo conexão nenhuma, os fatos foram cuidadosamente pensados e colocados para (adivinha?) dar essa sensação ao público. Não são fatos jogados a esmo numa comédia romântica a fim de gerar um lucro bom. Ao fim do filme, para alguns, fica a sensação de que nem tudo precisa fazer sentido.