FIlme brilhante. E é impressionante ler que foi o primeiro longa do diretor, Neill Blomkamp. Obviamente tem um produtor de peso atrás, o Peter Jackson, mas não tira o mérito do novato diretor, que acertou em cheio.
As cenas de ação são ótimas, bastante realistas para um filme de "fição cientifica".
O roteiro é fantástico, original, surpreende mais de uma vez. O final, que poderia ter sido mais feliz, mas que as "reportagens" e "entrevistas" que iniciam o filme deixam anteceipar, é duro em parte.
Os atores preenchem o papel perfeitamente: o Wikus, no papel do administrador, limitado, racista, cheio de preconceitos, com a vidinha bem organizada, a mulher loira arrumada que vê o mundo e a vida dele serem colocadas de cabeça para baixo em poucas horas; os soldados da MNU, em particular o batalhão de choque (que nas legendas aparece traduzido como "BOPE"... deve ser uma graça dos tradutores :-)), frios e revoltantes; o alto escalão da MNU, mais despreziveis ainda; os médicos da MNU... nojentos; os milicianos nigerianos, mais realistas impossivel; os colegas de trabalho do Wikus, cada um mais mediocre do que o outro...
E os aliens, feios, mas feios mesmo, combinam ao mesmo tempo fraqueza - quase que abandonados na nave espacial deles, morrendo de fome, perdidos no Distrito 9, prontos a vender a mãe e o pai para uma lata de comida de gato, doentes... - e força surpreendente - fazem os humanos voarem quando acertam porradas, dominam (como o Christopher Johnson) uma tecnologia anos-luz a frente da nossa...
É uma das dicotomias interessantes do filme: os aliens chegaram numa nave gigante, esplendida no por-do-sol sobre Joanesburgo, tem uma tecnologia extremamente moderna... porem são enfiados numa favela com ares de campo de concentração, como tantos prisioneiros de guerra derrotados, a merce das gangues nigerianas e da MNU, parecem incapazes de se defender, a pesar de terem armas de muito poder.
As armas... um dos temas importantes do filme, e o que corporações estão dispostas a fazer para controlar estas armas / tecnologias. A MNU é um horror, um pesadelo, o reflexo de todo que é abominavel nesse contexto: tortura os aliens e os seus proprios funcionarios, como o Wikus, se for necessario; faz experiencias geneticas neles... o que não deixa de lembrar as experiencias nazistas na 2a guerra mundial sobre o corpo humano, que queriam transformar o corpo em objeto, produto...
Obviamente, um dos aspectos mais interessantes do filme é o quanto ele expõe as fraquezas / erros de nossa sociedade:
- a segregação racial / o racismo: a escolha de Joanesburgo, capital da África do Sul, não foi de graça. O Distrito 9 modelado nos famosos "townships" de Joanesburgo. Os soldados brancos e racistos do BOPE da MNU. O arquetipo da mulher loira, dona de casa, do Wikus.
Mas para aliviar um pouco o maniqueísmo branco / preto, tem as milicias nigerianos, que são... bom, não muito brancas! e que desenvolvem um papel nojento na trama, com direito a pintadas de magia negra, canibalismo, prostituição, trafego de armas e outras atividades simpaticas.
- a luta pelo poder e o dominio de armas cada vez mais potentes... todo o papel da MNU, que passa por cima de qualquer consideração ética para tentar chegar aos seus objetivos.
E o amor?
Será que o Wikus so consegue lutar e ficar em pé porque quer reconquistar a mulher dele? Ou é simplesmente o instinto de sobrevivência?
Tem a relação pai-filho entre o Christopher Johnson e o filho dele (esqueci o nome agora), que tem alguns aspectos interessantes. Mas não foi falar mais sobre isso para não ter nenhum "spoiler".
Enfim... já escrevi bastante :-)
Em resumo: bela historia, ritmo excelente, boas cenas de ação, muitos temas mais "profundos" abordados no filme, dialogos bons... Grande filme!!!