Novo com DNA das antigas
por Roberto CunhaAlém das inúmeras adaptações dos quadrinhos, filmes em 3D e, claro, muitas refilmagens que Hollywood tem produzido, existe um sopro de ação retrô, que anda dando uma sacudida por aquelas bandas. Exemplos recentes seriam O Último Desafio, protagonizado pelo ex-governador da Califórnia e eterno Exterminador do Futuro Arnold Schwarzenegger, e a bem sucedida franquia Os Mercenários, onde Stallone resgatou um catatau de gente que arrebentou no cinema de ação dos anos 80/90. Alvo Duplo, no caso, bebe em duas dessas fontes: foi baseado em quadrinhos de origem francesa e é protagonizado pelo garanhão italiano que conquistou a fama na pele de Rocky, um Lutador e não parece dar sinais de que pretende jogar a toalha tão cedo.
Na história, Sly interpreta Jimmy Bobo, um assassino profissional que (perdão pelo trocadilho) de bobo não tem nada. Contratados para fazer "um serviço" em Nova Orleans, Jimmy e seu parceiro liquidam o sujeito sem muita cerimônia e com muita frieza. O problema é que na hora de receberam o pagamento, um deles acaba sendo apagado por um mercenário e o outro (adivinha quem?) vai cobrar essa dívida com juros e correção. Para esquentar mais o caldeirão, o detetive Taylor também quer descobrir quem era o contratante porque a vítima era um policial corrupto de sua área. Aí é só fechar a tampa e deixar ferver porque os dois vão unir forças para desvendar essa trama suja, envolvendo a especulação imobiliária e políticos nada honestos.
A ideia de juntar personagens de lados opostos da lei é sempre interessante, pois permite explorar bem os conflitos morais, como já fizeram outros títulos, entre eles o ótimo Donnie Brasco. Mas não se anime muito porque o objetivo aqui é mais o entretenimento. Ressalta o contraste do "novo com o velho" (um usa o celular o tempo todo e o outro prefere uma boa e velha pistola), mas não avança muito. A narrativa apela para um outro off do protagonista, mas se sustenta nos diálogos que apenas funcionam. No elenco, a alquimia é muito louca. Mistura outro veterano (Christian Slater) com ator oriental de franquia nova (Sung Kang - Velozes & Furiosos 6) e adiciona um pessoal que fez fama em seriados de TV: Adewale Akinnuoye-Agbaje (Lost), Jason Momoa (Stargate: Atlantis e Baywatch) e ainda Sarah Shahi, da polêmica série The L Word. Sobre a trilha sonora, vale lembrar que tem guitarra e gaita comendo solta.
Se as interpretações estão caricatas ou não, o resultado é um filme correto, que tem começo, meio e fim. Tem humor, não economiza no sangue cenográfico, é violento, suas cenas de ação são boas e os muitos tiros, em especial, têm um toque de estilo. Adaptado pelo cineasta Walter Hill, dos excelentes 48 Horas e Warriors - Os Selvagens da Noite, Alvo Duplo tem em seu DNA toda aquela coisa dos filmes de caras durões da citada época (lá em cima) e manda ver nos clichês necessários. Desde um ridículo encontro marcado em um local isolado até uma filha sequestrada pelos malvados. Então sob essa ótica é ruim? Para muita gente não será. Até porque nem todos têm a mesma idade ou conseguiu ver tudo do gênero. A melhor definição seria afirmar que é um filme típico de matança. E seu mérito, sem dúvida, é lembrar o estilo de uma época, mas tem grandes chances de cair no esquecimento.