José Bastos Padilha, cineasta, roteirista, documentarista e produtor cinematográfico brasileiro é sempre repleto de indignações e ideias pungentes que nos pegam despreparados. Os Carvoeiros (2000), Ônibus 174 (2002), Estamira (produtor 2004), e o aqui comentado (Garapa) (2009) desvendam os olhos daqueles que não querem ver. Com imagens em preto e branco, Garapa revela a grave insegurança alimentar de três famílias cearenses. Ao conhecer a desigualdade e a fome no Brasil, de perto, Padilha diz ter passado por um processo de mudança interior intenso. Crianças que bebem água doce na mamadeira por falta de leite. Rosa, Lúcia e Robertina só possuem um objetivo, matar a fome de seus filhos. Padilha não mascarou a realidade, o documentário é cru e cruel como a vida de seus personagens. Essa fome não é nacional ou regional, Padilha expressa em seus personagens a fome do mundo. José Padilha reitera a admiração pelo Bolsa Família, “que faz a diferença entre comer açúcar por 15 dias ou pelo mês inteiro. Se sou uma criança que cresce sem comer, me desenvolvo física e cognitivamente menos do que as outras; a probabilidade de arrumar um emprego é menor e meu filho vai reproduzir o mesmo drama. Isso é universal: a fome se repete nas mesmas famílias. Sem um empurrão dificilmente haverá superação. Nesse sentido, penso que o Bolsa Família é um exemplo." Padilha e o seu (Garapa) não são bem vistos, porque impedem que a miséria torne-se lugar-comum, é um grande soco no estômago de uma nação de marginalizados e de reinante desigualdade social.