Alien com roupagem high tech de última moda...
… e turbinado com questões existenciais. Assim é Prometheus, que vale mais pelos efeitos do que pela engenhosidade da história
Nem religião, nem darwinismo. É em uma terceira via que Prometheus, de Ridley Scott, fundamenta as origens da humanidade. A explicação para os segredos de tudo aquilo que somos há milênios está em um planeta distante. Graças a seres chamados de “engenheiros”, estamos onde estamos hoje: viajando pelo espaço e nos questionando de onde viemos e para onde vamos. Claro: a trama se passa no futuro, mas as angústias existenciais são atemporais.
Após um prólogo misterioso e muito bem arquitetado artisticamente, vemos a nave Prometheus a caminho de um destino “confidencial”. Vale lembrar que o título do filme faz referência a Prometeu, um dos titãs gregos castigado por roubar o fogo exclusivo dos deuses e concedê-lo aos homens. Em razão disso, foi condenado a ter o fígado consumido por uma águia para então, ver o órgão reconstituir-se e depois, ser novamente devorado, em um ciclo eterno de consumação e reconstrução. Mitologia exagerada? Não se substituirmos “fogo” por ideias como “conhecimento”, “técnica”, “condições de igualdade entre criaturas e criador(es)”. Assim, fica evidente a total relação entre o nome da nave e o propósito do projeto para o qual ela se destina no filme.
Os amantes da ficção científica poderão encantar-se com a cena da câmara de procedimentos cirúrgicos em ação. Encantamento em termos de imaginação e vislumbre tecnológico, mas não por sua dramaticidade narrativa. Os pacifistas sorrirão com a alfinetada de um dos tripulantes: “Eles [os ‘engenheiros’] não são idiotas de criar armas de destruição em massa perto de onde moram”.
Prometheus é complexo o suficiente para anular conclusões precipitadas; e falsamente original para ser levado tão a sério. Complexo porque apresenta uma delicada queda de braço entre ciência e fé, frieza e empatia, com uma suave (ou nem tanto) tendência em privilegiar ciência e frieza. Ora pode-se dizer que o filme é um grito em favor do ateísmo. Ora é possível vê-lo como um alerta, lá dos anos 2093, para que a humanidade não creia cegamente na ciência. “O fundamentalismo científico é tão prejudicial quanto o religioso”, parece sussurrar Scott, apesar de em entrevista, não expor isso. Atenção para a “coincidência” de eventos importantes na trama acontecerem no Natal e no Ano Novo.
Filme recicla o antigo
para revender como novo
Prometheus desliza em termos de originalidade porque a complexidade, que envolve questões existenciais e embate entre ciência e fé, fundamenta-se em um roteiro que repete o clássico Alien, também de Scott, lançado em 1979. Com adaptações aqui e ali e, claro, uso de efeitos muito mais avançados, Prometheus segue os mesmos passos de Alien. Chega a ser didático em sua cópia, de tanto que permite ser comparado ao predecessor.
É possível afirmar que este “novo” filme não passa de uma regravação de Alien. Mas, agora, a roupagem high tech é de “última moda”, confeccionada com base naquilo que computadores modernos são capazes de elaborar. Exemplo típico da estratégia da indústria cultural de reciclar seus produtos e revendê-los. Literalmente.