O cinema e sua capacidade de contar e recontar histórias clássicas. A sétima arte tem o dom de adaptar todo tipo de história, por mais difícil que ela seja. A lenda dos 47 ronins, já foi tema de várias adaptações nos cinemas e nas tvs. Nem por isso, o impacto e a essência dessa incrível história, perderam a força.
“47 Ronins”, é uma refilmagem da obra de mesmo nome de 1971, que contava com o lendário Toshiro Mifune no papel do emblemático Genba Tawarabosh, que por sua vez foi um remake do filme original de 1958. Às duas últimas são produções japonesas, que procuraram uma fidelidade maior, em relação a história original. A nova produção de 2013, dirigida pelo estreante Carl Erik Rinsch, é a primeira visão de Hollywood sobre a história.
O que antes era um drama épico, sobre honra e respeito ao código do Bushido, transformou-se em um trama que fala sobre lealdade, com excelentes cenas de ação, e um toque de fantasia que só a industria americana poderia dar. Keanu Reeves, ainda que um pouco apático (mas esforçado), interpreta Kai, um mestiço que acaba sendo apadrinhado pelo lorde Asano (Min Tanaka), que vê nele o espirito de um samurai. Mesmo convivendo com Asano e seus samurais, ele nunca foi aceito por Oishi (Hiroyuki Sanada), o chefe dos mesmos. Conspirando um golpe, para tomar o feudo de Asano, o lorde Kira (Tadanobu Asano), faz um pacto secreto com uma feiticeira (Rinko Kinkuchi), para que juntos, façam com que Oishi caia em desgraça. Um ano depois, Mika (Ko Shibasaki), a filha de Asano, está de casamento marcado com Kira. É o suficiente para que Oishi procure a ajuda de Kai, que sempre nutriu um forte sentimento por ela.
De certa forma, ao colocar um mestiço dentro do plantel de personagens históricos, fez do filme, uma adaptação bastante peculiar. O fato de um feiticeira também compor o elenco de supostos “vilões”, traz ao filme um tom mais fantasioso e descompromissado ao longa. Mesmo que não incomodem, ambos acabam ditando o ritmo do filme. Durante o primeiro ato, que se estende durante quase uma hora, todos os personagens são muito bem caracterizados e desenvolvidos, mostrando que mesmo como todo bom filme de ação, existe uma mensagem e história à serem apresentadas. Porém, o segundo ato que seria o mais importante e crucial, acaba deixando (e muito) a desejar.
Durante ele, somos apresentados ao plano de vingança, que se resume em uma alegoria de diálogos e frases de efeito, que servem de fundamento para compor o grupo de 47 ronins. Essa parte, faz toda diferença no final, já que a sensação que fica, é que não existe uma união no grupo e sim, um amontoado de antigos samurais, que planejam um banho de sangue (mesmo à todo momento, o grupo sendo avisado da necessidade de manter o foco em: “recuperar a honra perdida”).
Se sobram diálogos e frases de efeitos nos primeiros dois atos, o terceiro, se mostra o melhor deles, com ação frenética, belos efeitos visuais (mas nada que justifique o 3D), um dragão (!!!) e uma bela mensagem final. Não é nada memorável, mas com toda certeza vai incentivar os mais novos (e até aqueles que si quer tem interesse pela cultura oriental), procurar saber melhor sobre o que realmente aconteceu.
“47 Ronins”, pode não ser a melhor adaptação que já se viu, dessa bela e emocionante história. Mas é realmente louvável a proposta de apresentar algo intrinsecamente ligada a cultura oriental, às plateias mundiais, sem perder o claro aspecto de entretenimento. Mesmo que contando com um vasto elenco de ótimos atores japoneses, incluindo Hiroyuki Sanada, Tadanobu Asano, Rinko Kikuchi, Kô Shibasaki e Jin Akanishi, todos eles falam em inglês, o que só ressalta o tom de adaptação cinematográfica americana.
Não foi dessa vez, que vimos um verdadeiro épico sobre honra e respeito ao código bushido, mas seja esse talvez, o filme mais acessível sobre o tema, entretendo e ensinando ao mesmo tempo. Se Tom Cruise, já demonstrou que poderia interpretar um samurai e receber elogios por isso (em “O Último Samurai”), porque não dar uma change a Keanu Reeves. Ao menos ele foi mais original.