Existe uma certa ambiguidade em cima do título A Garota Dinamarquesa, filme dirigido por Tom Hooper. Tem um determinado momento da obra, em que não sabemos se isso se refere à pintora Gerda Wegener (Alicia Vikander, em atuação vencedora do Oscar 2016 de Melhor Atriz Coadjuvante) ou ao seu marido, o também pintor Einar Wegener (Eddie Redmayne, em performance indicada ao Oscar 2016 de Melhor Ator).
A verdade é que a construção do relacionamento entre Einar e Gerda é o ponto mais positivo do filme. Tente se imaginar no lugar da esposa que ama profundamente o seu marido e que testemunha a coragem dele em vivenciar aquilo que ele escondeu dentro de si durante todo esse tempo. Tente se colocar na posição do homem que relegou, durante anos, os seus verdadeiros desejos; ao mesmo tempo em que ele vive um dilema interno enorme, por possuir um enorme carinho e respeito pela mulher que ele assumiu como sua companheira de vida.
Tudo isso é difícil, mas A Garota Dinamarquesa escolhe um caminho correto a seguir ao nos retratar toda a cumplicidade que envolvia Einar e Gerda, que dividiam, além da vida, a casa, a profissão, o amor, o apoio, a parceria e o companheirismo. A transformação de Einar em Lili nos é retratada de uma maneira bastante respeitosa por Tom Hooper, que entende que a sua personagem (bem como as pessoas que a rodeavam) possuem um tempo próprio para “aceitar” tudo aquilo que estava se passando.
Diretor competente, Tom Hooper entrega, com A Garota Dinamarquesa, um filme tecnicamente perfeito. Entretanto, Hooper perde a mão a partir do momento em que decide colocar Gerda e Einar, mesmo que temporariamente, em sentidos opostos. A força de A Garota Dinamarquesa vem do amor e do respeito que ambos tinham um pelo outro. Sem o apoio de Gerda, Lili nunca existiria. Uma sempre foi a extensão da outra.