A tarefa de se fazer um remake nunca é fácil. Conhecemos casos que deram certo, como “Os Infiltrados (2006)” e “Bravura Indômita (2010)” e também alguns que nunca deveriam ter saído do papel, como “Quarentena (2008)”, que é um remake do espanhol “REC (2007)” e "Psicose (1998)", que dispensa comentários. Mas como Hollywood parece estar sofrendo de um “bloqueio criativo” nos dias de hoje, lhes pareceu uma boa ideia ocidentalizar um dos filmes cult mais reverenciados dos últimos anos no continente asiático, para ser mais exato na Coréia do Sul.
“Oldboy (2003)”, de Chan-wook Park é um sórdido, torpe e sombrio conto sobre um homem comum, Dae-su Oh, que é sequestrado e trancado por 15 anos sem saber o motivo de sua captura. Inexplicavelmente após esse tempo ele é solto e decide buscar vingança contra quem lhe manteve preso, a fim de saber o que havia feito para ser punido de tal forma. Esquecendo-se de quem é, Dae Su se torna um homem cruel e desumano, com apenas um propósito: saborear sua vingança. O sucesso do Oldboy original deve-se a visceralidade de suas passagens, as cenas de luta impressionantes (e violentas) e ao desespero do protagonista em buscar sua redenção.
Quando pensaram em qual diretor poderia manter a “essência” brutal do filme original, mas criando um novo personagem em um novo universo, garanto que a escolha agradou a maioria: Spike Lee (que também produziu o filme). O estilo sincero, cru e violento do diretor, acostumado a lidar com assuntos polêmicos e conflitos de forma muito satisfatória certamente encaixaria bem neste projeto ousado. No elenco, o durão Josh Brolin (Onde os Fracos Não Têm Vez, 2007) seria Joe Doucett, nosso protagonista, acompanhado de Elizabeth Olsen (Godzilla, 2014), Sharlto Copley (Distrito 9) e o “arroz de festa” (de luxo, é verdade) Samuel L. Jackson (Pulp Fiction, 1994). As mudanças principais na trama foram o tempo de confinamento, que passou para 20 anos, além de alguns detalhes impossíveis de abordar sem um alerta de spoilers, portanto vamos seguir em frente.
Spike tem seus méritos ao conseguir instituir um clima sombrio e tornar válido o drama sofrido por Brolin, que consegue uma atuação marcante e repulsiva. O problema é que mesmo separando este remake do original, vemos que o diretor buscou não sair muito da sua zona de conforto e ousar mais, acabando por conceber um trabalho seguro, porém superficial. É bom ressaltar que apenas os grandes fãs do longa sul-coreano deverão ficar decepcionados, mas o filme deve ser muito bem aceito pelo seu novo público, pois irão se deparar com um thriller diferente do que estão habituados, abordando assuntos ainda “tabu”, porém com a estética e a violência que consagrou tantos estilos de direção, como Tarantino, Scorsese e o próprio Spike Lee.
A verdade é que o projeto poderia ter sido muito mais ousado e quando se tem a chance de se “refazer” algo, espera-se que o resultado seja melhor que o anterior. Era um desafio muito grande para as pretensões dessa produção, que se preocupou mais em trazer para o público ocidental essa obra magnífica, que nem todos teriam interesse em buscar lá no cinema asiático. Se fosse no futebol, eu diria que Spike Lee não jogou buscando a vitória, mas se preocupou em não perder, o que de fato, conseguiu.