A nova película de Sylvester Stallone tem mais testosterona que um frasco de anabolizante. Não só por ser um filme de ação de política simples: muita luta, perseguição em alta velocidade, sangue jorrando com todo o sensacionalismo oitentista. Mas por reunir vários atores simbólicos desse tipo de cinema.
Estou falando de Dolph Lundgren, que se notabilizou em filmes como Rocky 4, Soldado Universal e Homem de Guerra. De Jet Li, ator o qual muitos saudosistas enxergam (um tanto exageradamente) como uma espécie de continuador de Bruce Lee.
Falo também da participação especial de Bruce Willis, ícone da legendária saga "Duro de Matar"... do velho Arnold Schwarzenegger... do Mickey Rourke... sem contar a presença de uma nova geração de atores de filmes de ação e lutadores profissionais, como Eric Roberts, Jason Statham, Gary Daniels, Randy Couture e Steve Austin.
O filme não tem maior ambição que resgatar o cinema de ação dos anos 1980, capitaneado por um dos grandes símbolos da época, Sylvester Stallone. Isso fica evidente já nos primeiros minutos, em que Gunnar (Dolph Lundgren) parte um homem literalmente ao meio com uma rajada de balas de grosso calibre. Ou antes, quando a câmera repousa justamente em um símbolo de caveira, representando o grupo de "soldados da fortuna" liderados por Barney Ross (Sylvester Stallone).
Tudo isso serve como porta de entrada para uma história simples recheada de coreografias de luta, mortes escabrosas, perseguições, tráfico de drogas, ditadores... os genuínos clichês da era de Charles Bronson (1921-2003), James Coburn (1928-2002) e do imortal Chuck Norris.
Tudo praticamente começa quando o grupo liderado por Barney Ross é contratado por um certo Sr. Church (Bruce Willis), agente da CIA. A ideia é que eles se infiltrem numa ilha da América Latina e assassinar seu ditador (David Zayas). A ilha é uma mescla indistinta de México, Cuba e Norte do Brasil. Embora, Mangaratiba (RJ), locação de parte das filmagens, apareça timidamente aqui e acolá.
Quando Barney Ross e seus soldados durões lá chegam e conhecem Sandra (Gisele Itié), eles descobrem a verdadeira raiz do problema. Que o implacável ditador é na verdade uma marionete na mão de um mercenário truculento, ex-agente da CIA.
Com voltas e reviravoltas de videogame, com a mocinha Sandra representando dentro daquela constelação de machões a estrelinha do nacionalismo romântico (ou, no aspecto mais amplo, a humana mensagem de se sacrificar por um sonho), o grupo seleto de Barney Ross deixa a pequena ilha praticamente de pernas para o ar.
"Os Mercenários" é um filme mórbido. E é dirigido cheio de maneirices. O roteiro é basicamente conduzido por diálogos curtos. Talvez em busca de um maior efeito dramático, é que haja pausa grande entre uma fala e outra, preenchida por um sorrisinho, um meneio de cabeça, um gesto.
Fora também os cortes cartesianos de cenas, os giros de câmera, além dos enquadramentos nervosos. Essa busca se nota com clareza absurda na cena em que Barney faz que foge no avião, mas depois ele volta com tiros e explosões, para exterminar seus perseguidores. O artifício é básico, muito clichê, mas em nada deve das águas que Stallone bebe.
Lamentável constatar os efeitos especiais primários, principalmente no último bloco da trama. A destruição do palácio presidencial é tão forçada e artificial, que parece uma justaposição de imagens, sendo o palácio uma maquete de papel maché. E a cena do indivíduo em chamas? Não dá para convencer.
"Os Mercenários" é um filme mais que parado no tempo. É um filme saudosista, nostálgico, retrógrado. Talvez a sua grande qualidade seja essa sinceridade, a de não propor mudança nenhuma, depois de quase trinta anos de um estilo consagrado.
Procurar brilhantismo, questões complexas, personagens complicadas e alta densidade psicológica neste filme, será uma tarefa fã. Mas quem procura 100 minutos de muita adrenalina em um filme descompromissado, truculento, divertido, "Os Mercenários" é uma boa pedida.