O nome do filme pode ser “Biutiful”, mas a realidade do personagem principal da obra dirigida por Alejandro Gonzalez Inarritu não é nada bela. Uxbal (Javier Bardem, indicado ao Oscar 2011 de Melhor Ator) é um antiherói, que acaba de ser diagnosticado com um câncer de próstata já em metástase. Com dois meses de vida, a jornada dele não é em busca da redenção ou da aceitação do seu destino. Uxbal, na realidade, vive um momento muito sombrio em que a sua grande preocupação é deixar seus dois filhos pequenos (que moram com uma mãe de trajetória altamente errante) numa situação confortável após ele partir.
“Biutiful” é a primeira obra que o diretor Alejandro Gonzalez Inarritu realiza sem a habitual parceria do roteirista Guillermo Arriaga. Porém, curiosamente, este filme trata muito dos temas recorrentes vistos nos longas resultantes desta antiga parceria de trabalho. “Biutiful”, de certa forma, lembra muito “21 Gramas”, no sentido de que a essência de ambos os longas fala a respeito da continuidade da vida, da necessidade do reencontro com o cerne que nos faz aquilo que somos ou, simplesmente, do sentimento de compaixão pela dor, pela jornada ou pelas escolhas equivocadas dos outros.
Em “Biutiful”, com a exceção da ausência de Guillermo Arriaga, Alejandro Gonzalez Inarritu se rodeou de constantes colaboradores, como o compositor Gustavo Santaolalla, o diretor de fotografia Rodrigo Prieto e o editor Stephen Mirrione. Por causa disso, a marca do diretor e o estilo que ele imprime são notadamente percebidos desde o primeiro ao último quadro. Uma obra dedicada pelo diretor em homenagem à figura de seu pai, isso nos ajuda muito a compreender “Biutiful”. Como dissemos, o filme não é sobre a redenção de alguém, sobre ultrapassar obstáculos ou vencer a dor. O longa fala sobre a busca de um homem pela paz, pelo conforto, por aquele instante em que ele pode dizer que pode partir em paz porque tudo vai ficar bem.