"O irlandês" novo filme de Scorsese transpira cinema, trazendo a tela grandes astros e figuras importantes do cinema, como De Niro e Al Pacino, o longa traz novamente todo o clima de mafia, agora, em um épico de três horas e meia, Scorsese conta sua historia com calma, sem exageros ou atropelamentos, conseguindo manter um bom ritmo e trazendo toda a nostalgia do gênero Gangster, com estilo e uma veracidade cruel.
O roteiro é contado a partir do ponto de vista de um matador de aluguel que trabalha para varias verterdes de mafiosos, deste o crime organizado a até sindicados, um faz tudo que serve de pilar para que ótimas historias sejam contadas e maravilhosos personagens sejam apresentados, deste Agiotas, mafiosos em fim de carreira, cobradores, sindicalistas e até outros matadores de alugueis, o roteiro as vezes peca no desenvolvimento do protagonista em si, um personagem frio e quase sem remorso que tem um núcleo familiar e motivações conturbadas, porém, sua infinidade de personagens a sua volta são marcantes e com um ótimo desenvolvimento, Jimmy Hoffa e Russell Bufalino são os mais destacáveis, os dois personagens são o condutor que faz a história prosseguir e criar os desenvolvimentos necessário a cada integrante em tela, além disso, os dois Gangsters em si tem um desenvolvimento magistral, melhor até do que o nosso protagonista, seus anseios, culpas e frustrações se espelham com a de Frank, os três criam um complemento, suas virtudes e defeitos se conversam entre si, medo do esquecimento, problemas familiares, traição, fidelidade, cada integrante representa um todo e ajudam a compor um roteiro que apesar de dar um ótimo prosseguimento de história, seu foco principal é em seus personagens que roubam a cena.
Falando em personagens, o trio já citado é composto de atores históricos do cinema americano, todos os três marcantes por filmes de máfia agora se encontram e protagonizam uma atuação que vai além do "Muito bom" três ótimos atores que enfrentam os problemas de seus personagens com afinco, sutileza e explosão, e até vivem seus dramas em suas vidas reais, o medo do esquecimento, os dramas familiares, são atuações profundas de três gênios que aparentemente haviam deixado sua genialidade no século passado voltam e se provam novamente, é lindo ver três ícones de filmes de máfia atuando tão bem, De Niro, Al Pacino e Joe Pesci merecem uma indicação ao Oscar, De Niro fazendo um personagem frio e contido, porém o mais expressivo, Al Pacino fazendo um clássico personagem explosivo e manipulador, muito comum em sua filmografia porém que sempre funciona, e aqui temos muito mais profundidade do que apenas gritaria, e Joe Pesci, para mim, o melhor do filme fazendo um personagem contido, muito profundo e extremamente ameaçador.
Tecnicamente, Scorsese não tem erros, talvez, uma queda de ritmo no terceiro ato, mas visto que o filme tem 4 atos, e que o quarto é o mais tocante e profundo é normal essa queda de ritmo, pois fazer um filme de três horas e meia e fazer o telespectador sentir apenas meia hora do filme, tem seu mérito, mas além do encanto das atuações, a direção é primorosa, cenas congeladas, descrições em tela, uso de alívios cômicos com humor negro, uma câmera sempre bem posicionada, ótimos figurinos, uma composição de cenário magnífica, boa fotografia e reconstrução de época, maquiagem incrível, um Oscar quase certo nesse quesito, todo design de produção em é excelente, e ainda por cima temos uma trilha sonora maravilhosa, que circula nos mais diferentes gêneros e ajudam a compor cada cena de tela si, muitas vezes causando o humor, o drama ou o suspense.
"O irlandês" para mim já é o melhor filme do scorsese no século 21 e um dos melhores de sua filmografia, e o melhor filme de 2019 até então, um longa profundo, corajoso e que entrega o que promete, une ícones do cinema para um último adeus, e trata sobre esquecimento, amor, amizade e traição de um modo cruel mas muito sentimental, apresentando grandes personagens que tiveram suas conquistas mas são amargados com a violência da vida, um épico que une muita coisa e consegue agradar e encantar o mais chato dos telespectadores, seja pelo seu enredo, atuação ou direção, ou simplesmente pela reunião de grandes mitos do cinema, ou até pelo seu lado sentimental, Scorsese declama aqui seu cuidado e amor ao cinema. NOTA: 9,5/10
CUIDADO SPOILER: O mais novo longa do maior diretor americano vivo é muito introspectivo, ao falar sobre velhice, morte e esquecimento com um elenco que fez muito sucessos, levou diversos prêmios e agora passa por um período de ostracismo e perda de talento, que agora se reencontram, o quarto ato do filme, é de desespero, é o personagem de Frank ainda vivendo sua época de mafioso, ainda não querendo entregar seus companheiros, mesmo que todos já estivessem mortos -E o Scorsese deixa isso bem claro enfatizando a todo momento a forma da morte de cada integrante- , Frank ainda acha que pode ser ameaçado, deixa sua porta na maravilhosa cena final entre aberta como Jimmy Hoffa, com medo de seus perseguidores, seu discurso final com a enfermeira também é cruel, o esquecimento de um homem que ele admirou que agora não existe mais, seu legado está morto, como todo o cenário que ele viveu por anos, tal qual sua família que o culpa por sua frieza e crimes, Frank é um personagem que representa o todo do filme, o maior drama até então, todos os personagens do complexo roteiro tem suas facetas, Russell Bufalino que não conseguiu construir uma família, e apesar de ser simpático nunca conseguiu atingir o carisma que gostaria, Jimmy Hoffa, um mafioso com uma ideologia forte que teve seu maior legado tirado de si e nunca conseguiu o reaver, além de diversos outros plots. São três personagens tocantes e que se complementam e que fizeram parte de uma historia americana de crescimento e crimes que culminou com a morte e ostracismo dessa cultura.