Filme de amor explícito
por Bruno CarmeloA premissa deste drama independente, se não era a aposta comercial mais segura do mundo, ao menos despertava grande curiosidade: juntar um elenco classe A em Hollywood, acostumado a grandes produções de comédia e ação, com a tradicional montadora de Woody Allen, Susan E. Morse, além do músico Clint Mansell (compositor da perturbadora trilha de Réquiem para um Sonho) e de uma diretora iraniana estreante, Massy Tadjedin.
O resultado desta história sobre o amor e as relações extraconjugais ficou, no mínimo, estranho. Os atores surpreendem, no bom e mau sentido: Sam Worthington, dos filmes-brutamonte Avatar e Fúria de Titãs, mostra um lado novo com uma atuação minimalista, contida. O mesmo ocorre com Eva Mendes, geralmente vista no cinema como bomba sexual latina, e que compõe uma mulher sedutora apenas pelo tom da voz, pelos olhares discretos, enquanto permanece vestida (quase sempre) até o pescoço. Contra todas as expectativas, ela é provavelmente a melhor surpresa do filme.
Já Keira Knightley consegue oferecer uma atuação ainda menos sutil do que sua histérica personagem de Um Método Perigoso. Para expressar desconforto, ela torce a boca, retorce os olhos, contorce o queixo, arruma os cabelos, gagueja sem parar. Um festival de tiques que se espelha bem na atuação de Guillaume Canet, um galã francês que interpreta justamente um galã francês, com sorriso de propaganda de dentifrício durante 90% do filme.
Diante do elenco em descompasso, o filme segue um caminho seguro, pedagógico. Enquanto o marido (Worthington) é seduzido pela colega (Mendes), sua esposa (Knightley) é seduzida pelo ex-namorado (Canet). A montagem tem a sutileza de uma professora de pré-primário: em imagens alternadas, os caminhos idênticos de ambos os esposos se sucedem. Ao mesmo tempo em que a esposa decide beijar outro homem, o marido também beija outra mulher. Quando ela tira a roupa, a imagem paralela mostra que ele faz o mesmo. Talvez a ideia, louvável, seja a de não culpar ninguém, mostrando que ambos têm a mesma atitude, e seriam igualmente condenáveis – ou perdoáveis, dependendo do ponto de vista.
Mas esta estrutura acaba engessando completamente a narrativa que, embora evite o moralismo, não supera sua dualidade. Sabe-se desde o começo que ambos vão hesitar, mas ceder aos desejos, embora ninguém duvide do amor recíproco do casal. Ou seja, a história condensa em algumas horas (tudo se passa em uma noite, como diz o título) todas as dúvidas sobre amor, desejo, fidelidade, fazendo dos coadjuvantes meros acessórios narrativos para que nossos fiéis esposos caiam na tentação. A inevitabilidade da traição, as noções de destino e as incríveis coincidências retiram a realidade deste filme, elevando-o à noção de conto, com a exemplaridade e o didatismo típicos do gênero.
O mais curioso é ver que, sem intenção de apelar à reflexão (as questões morais não são debatidas), nem mesmo aos sentimentos (dificilmente algum espectador vai rir ou chorar com os personagens), ele tenta prender o público pela sensação, pela atmosfera letárgica e elegante desta cidade que parece só ganhar vida durante a noite. Pela falta de contexto, e por ir tão diretamente ao que interessa (a exposição da infidelidade vai literalmente da primeira à última cena), Apenas Uma Noite faz com o amor o que os filmes pornográficos fazem com o sexo: uma abordagem frontal, instrumentalizada, em que o mundo ao redor dos personagens é apenas um cenário, que não deve se sobrepor ao estímulo das sensações.