Rindo de si mesmo
por Lucas SalgadoAtravés de séries como Freaks and Geeks e filmes como Ligeiramente Grávidos, Superbad - É Hoje e Segurando as Pontas, a geração de Seth Rogen, James Franco, Danny McBride, Jonah Hill, Craig Robinson e companhia aumentou a força dos "stoner movies" em Hollywood. O termo se refere ao "ficar doidão" por causa do uso de drogas, o que é bem comum para os personagens nestas comédias. O gênero, se é que pode ser chamado assim, já marca presença no cinema americano há bastante tempo, mas ganhava destaque eventualmente através de obras como Bill & Ted - Dois Loucos no Tempo, Madrugada Muito Louca e (por que não?) O Grande Lebowski. Agora, temos um grupo de atores que investe neste universo constantemente. E É o Fim é o ápice desta loucura.
O filme começa com Rogen apanhando o amigo Jay Baruchel no aeroporto de Los Angeles. Após passarem um tempo juntos comendo sanduíches, fumando maconha e assistindo uma TV 3D, a dupla sai para uma festa na casa de James Franco. Durante a confraternização, Jay deixa o local para comprar cigarros e é quando testemunha o início de uma noite apocalíptica. Ele volta para a casa de Franco, onde um pequeno grupo tentará sobreviver diante da misteriosa tragédia que os atingiu.
Todos os atores interpretam a si próprios, o que por si só já é muito divertido. A festa de Franco conta com um número impressionante de celebridades, assim nos deparamos com participações de Rihanna, Jason Segel, Paul Rudd, Mindy Kaling, Kevin Hart, Christopher Mintz-Plasse e Aziz Ansari. Dentre as pontas, quem merece um destaque à parte é Michael Cera. Conhecido por sempre fazer o mesmo papel de nerd desajustado, o ator de Juno e Scott Pilgrim Contra o Mundo surge como um babaca incorrigível que exagera nas drogas e acaba incomodando todo mundo na festa.
Emma Watson e Channing Tatum também surgem em dois divertidos momentos, com o destaque para a primeira que bota pra quebrar com um machado diante do aparente fim do mundo. Óbvio, não faltam referências à Harry Potter, mas todas muito bem inseridas.
A grande força do filme está na dinâmica entre os personagens. Enquanto Rogen aparece como o cara bacana e amigo de todos, é curioso notar como McBride é o que ninguém suporta e Franco é o sujeito que está sempre querendo impressionar. Baruchel é o cara deslocado, que não se dá bem com a maioria deles e nutre um ódio enorme por Jonah Hill, que por sua vez é um doce de pessoa.
A produção também brinca com estereótipos e famas dos atores. Por exemplo, faz piada o tempo todo com a sexualidade de Franco, o mostrando como um sujeito quase que apaixonado por Rogen. Também fala naturalmente que o ator faria o tempo todo sexo oral em outros homens e apresenta um grande pênis como escultura de sua sala de estar.
Com muitas (mas muitas mesmo) referências à drogas e sexo, o filme, em determinados momentos, parece perder a mão, mas é inegável que diverte e muito. É impagável ver os atores fazendo piada com seus próprios trabalhos. Falam mal de Sua Alteza?, O Besouro Verde e Homem-Aranha 3, e ainda brincam com obras consagradas como Segurando as Pontas e O Homem que Mudou o Jogo, que rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para Jonah. É impossível segurar o riso ao ver o ator rezando: "Oi Deus, aqui é Jonah Hill, de Moneyball." A série Freaks and Geeks também é citada em uma das várias declarações de Franco à Rogen, com ele dizendo que são "freaks forever".
Dirigido por Evan Goldberg e pelo próprio Seth Rogen, o filme é uma grande brincadeira entre amigos, mas também tem força própria como cinema. Diverte muito e não economiza em citações (O Senhor dos Anéis, Forrest Gump e O Exterminador do Futuro 2) e referências claras, com direito a cenas (e diálogos) evidentemente tiradas de O Bebê de Rosemary e O Exorcista.
A forma como a trama vai de filme-catástrofe para festa do pijama e depois volta para a catástrofe é interessante e a trilha sonora que vai de "Everybody", dos Backstreet Boys, até "I Will Always Love You", com Whitney Houston, passando por Bach e Black Sabbath, é fenomenal.
This is the End (no original) funciona mesmo pela relação entre os protagonistas e a naturalidade como lidam com o absurdo e como sabem rir de si mesmo. Mas há a clara impressão de que não deram muita importância ao roteiro, investindo em muitos momentos exagerados e quase se perdendo na ideia de "biblificar" ao fim do mundo.