RETRATO TORTO
por Lucas SalgadoLançado nos Estados Unidos em 2009, O Retrato de Dorian Gray levou dois anos para chegar aos cinemas brasileiros. O motivo é simples: o filme é muito, mas muito ruim. Mas o que mudou agora para o filme ganhar as telonas? O que mudou foi que Colin Firth está em alta após o Oscar por O Discurso do Rei, fazendo com que a distribuidora aproveitasse o momento para tentar ganhar algum dinheiro com uma produção que tinha no catálogo.
Baseado em livro homônimo de Oscar Wilde, o longa é um desrespeito à memória do lendário escritor. O Dorian Gray aqui retratado é pior até do que aquele visto no fraquíssimo A Liga Extraordinária na pele de Stuart Townsend (Três Vidas e Um Destino).
Mais conhecido pelo papel do príncipe Caspian na franquia As Crônicas de Nárnia, Ben Barnes foi o escolhido para viver Dorian e se revelou uma péssima opção. É claro que poucos atores fariam melhor com um roteiro tão infeliz, mas Barnes também é responsável pelo fracasso da produção. O ator entrega uma performance artificial e nada profunda, não fazendo jus à um dos personagens mais interessantes da história da literatura. Ao que parece, Barnes interpretou não envelhecer como sinônimo de não apresentar expressões faciais.
Dorian Gray é um belo e ingênuo jovem que é apresentado à alta sociedade de Londres por Henry Wotton (Colin Firth). Além da amizade com Wotton, Gray cultiva uma relação próxima com Basil Hallward (Ben Chaplin), um artista que resolve pintar um retrato seu.
Ao conferir o quadro, Dorian faz a promessa de que daria tudo para permanecer com o visual nele estampado. Dorian, então, passa a manter a mesma aparência com o passar do tempo, o que não acontece com a pintura.
Nada em O Retrato de Dorian Gray é digno de destaque, nem mesmo a atuação de Firth, que é mais próxima das que vimos em Tudo Que Uma Garota Quer e Bridget Jones no Limite da Razão do que das recentes em Direito de Amar e O Discurso do Rei. Ben Chaplin também não se sai bem, assim como a bela Rebecca Hall, que deu um passo para trás em sua carreira em ascensão - vide Vicky Cristina Barcelona e Frost/Nixon.
Após levar William Shakespeare para as telonas com Othelo, o diretor Oliver Parker agora investe em Oscar Wilde e a melhor dica que se pode dar à ele é: "fique longe de clássicos da literatura". O primeiro contava ao menos com uma ótima interpretação de Kenneth Branagh, mas este Dorian Gray (no original) não tem nada que salva. A fotografia é escura, a trilha não consegue criar nenhum momento de clímax e a edição é absolutamente ordinária.
Já dei uma dica para o cineastas, mas agora vai uma para você, caro leitor: "fique longe deste filmes". Assim como o retrato de Dorian, este longa deveria ficar trancado dentro de um armário, o que provavelmente aconteceria não fosse o Oscar de Firth.