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    Eternos
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Eternos

    Grandes poderes, grandes responsabilidades

    por Katiúscia Vianna

    Depois do sucesso de Vingadores: Ultimato, a Marvel precisou ser ousada para ainda surpreender seu público. A Fase 4 de tal universo cinematográfico é prova disso, a partir de projetos visionários como WandaVision, ou reinventando as histórias de origem com Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis. Mas nada pode preparar o espectador para a dimensão de Eternos, uma aventura cósmica que ultrapassa grandes limites e aborda a questão da humanidade por 7 mil anos. 

    Quem são os Eternos?

    Criados pelo lendário Jack Kirby na década de 70, Eternos são seres alienígenas poderosos, uma raça modificada geneticamente pelos deuses espaciais conhecidos como Celestiais, que dão vida ao universo. Dotados de características como imortalidade e manipulação de energia cósmica, o grupo foi enviado à Terra para proteger os humanos dos Deviantes, seus principais e brutais inimigos. Ao mesmo tempo, eles foram instruídos a não se intrometer em guerras humanas - por isso, ficaram ausentes quando Thanos (Josh Brolin) apagou a existência de metade dos seres, por exemplo.

    Basicamente, os Eternos são divididos em duas categorias: os pensadores e os lutadores. Na primeira, temos a líder deles, Ajax (Salma Hayek), com o dom da cura; Sersi (Gemma Chan) que é capaz de mudar a matéria das coisas; Phastos (Brian Tyree Henry) que sabe desenvolver qualquer tipo de tecnologia; enquanto Druig (Barry Keoghan) consegue manipular as mentes dos humanos e Sprite (Lia McHugh) cria ilusões.

    Dentre os lutadores, o mais forte deles é Ikaris (Richard Madden), capaz de voar e tem visão de lasers. Além dele, temos Thena (Angelina Jolie), que cria armas místicas; Kingo (Kumail Nanjiani) capaz de atirar raios de energia pelas mãos; Gilgamesh (Don Lee), dono de socos poderosos; e Makkari (Lauren Ridloff), a mulher mais rápida do universo. Quando os Deviantes voltam a ameaçar a Terra, o grupo se reúne mais uma vez. Só que as consequências podem ser inimagináveis.

    Após Nomadland, Chloé Zhao dirige Eternos

    É curioso ver como a Marvel escolheu uma diretora intimista para comandar uma história de tamanhas proporções épicas. Após fazer história no Oscar com Nomadland, a habilidosa Chloé Zhao assume a direção de Eternals (no original), mas logo é possível perceber o motivo dessa escolha. Não é fácil ter que lidar com 10 protagonistas — e ainda apresentar o Dane Whitman vivido por Kit Harington, que namora Sersi nos dias atuais. Porém, a cineasta dá espaço para cada um deles ter seu momento de brilho, por mais que o protagonismo esteja na relação de Sersi e Ikaris.

    Os melhores momentos do filme surgem justamente nas interações entre os Eternos, que formam uma família disfuncional. Imagine as tretas entre seus parentes se eles estivessem vivos por milhares de anos? Ao mesmo tempo, imagine como seriam fortes os laços de amor entre esses personagens, depois de tantos momentos passados juntos. É algo complicado, mas também poético, e Zhao sabe extrair boas performances de seus atores. Apesar do foco em explorar os mistérios da criação do universo, é mais interessante ver como a diretora quebra outras barreiras mais significativas, com a primeira cena de sexo e o primeiro beijo gay no Universo Cinematográfico Marvel.

    Onde Eternos se encaixa na Marvel?

    Por falar em Marvel, é óbvio que o filme vai ter cenas de ação, não é mesmo? As brigas com os Deviantes tem coreografias especiais que revelam o jeito de cada Eterno lutar e são bem bacanas. O problema de Eternos é que tem tanta coisa acontecendo, que tira o impacto de seus grandes momentos. Se a direção de Zhao é belíssima e traz planos interessantes, o roteiro é irregular, confundindo o espectador — até mesmo aqueles que já estão acostumados com tal universo cinematográfico. 

    Afinal, trata-se de uma outra porta sendo aberta no MCU. Eternos não segue a fórmula da Marvel, tanto para o bem, como para o mal, então a dúvida que fica é "Onde isso se encaixa?". Até o momento, temos o Multiverso sendo ilustrado em LokiHomem-Aranha: Sem Volta Para Casa e Doutor Estranho e o Multiverso da Loucura. Por outro lado, temos os Vingadores mais realistas, como Capitão América (Anthony Mackie), Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) e Shang-Chi (Simu Liu). E os Eternos ficam ali no meio, sem saber muito bem em que direção seguir. 

    Talvez tudo seja explicado em breve, ou no final da jornada, e essa crítica pareça velha daqui alguns anos. Porém, é importante expressar como o público se sente em cada momento, pois isso faz parte da experiência. Aprendemos a viver muito na expectativa do futuro (vislumbrado em cenas pós-créditos cada vez mais chocantes), sem aproveitar o presente. Sim, textos sobre Marvel também podem se tornar análises comportamentais da sociedade, lidem com isso.

    Gemma Chan e Angelina Jolie lideram o elenco de Eternos

    Outra questão curiosa em Eternos é o fato de Gemma Chan já ter aparecido em um filme da Marvel. Ela teve um papel pequeno como a vilã Minn-Erva em Capitã Marvel, mas foi escolhida para assumir a protagonista Sersi no recente longa da Marvel. E a decisão foi acertada, pois a moça britânica consegue expressar todo a gentileza da personagem apaixonada pela humanidade, ao mesmo tempo que consegue passear entre sua vulnerabilidade até sua força, ao longo do desenvolvimento da história. 

    Quem também tem um arco interessante é Thena, papel de Angelina Jolie. Além de arrebentar nas cenas de ação (afinal, ela é Angelina Jolie!), a atriz vencedora do Oscar por Garota, Interrompida também tem um desafio difícil com uma situação vivida por sua personagem — a qual não vamos revelar, por questões de spoilers, é claro. Porém, se Sersi está numa jornada de amadurecimento e liderança, Thena luta por superação. 

    O restante do elenco funciona muito tem, com bastante química e diferentes tipos de interações entre eles. Lia McHugh apresenta uma maturidade sensacional, apesar da idade, com uma personagem muito inteligente e sarcástica. Já Lauren Ridloff traz simpatia como Makkari, a primeira heroína surda da Marvel. Dá vontade de ver mais sobre ela, então já ficamos na torcida por mais espaço numa continuação — inclusive, seu relacionamento com o Druig de Barry Keoghan.

    Por fim, Eternos peca na hora de desenvolver sua mitologia, porém acrescenta personagens bem interessantes para o Universo Cinematográfico Marvel. Não é o melhor filme da franquia, mas está longe de ser o pior... Ou seja, quando for ao cinema, vá com a mente aberta. Não fique esperando uma obra-prima ou um desastre épico: existe um lugar vasto de oportunidades entre esses dois extremos. É ok ser ok. 

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