Baseado num clássico da literatura escrito por Charlotte Brontë, “Jane Eyre”, filme dirigido por Cary Fukunaga, tem os elementos típicos dos filmes de época românticos produzidos pelo cinema inglês, na medida em que temos aquele caráter bucólico dos ambientes nos quais as histórias se passam, ao mesmo tempo em que percebemos o cuidado com a parte técnica da obra. Esse longa, nesse sentido, é um prato cheio, especialmente no que diz respeito à belíssima trilha sonora de Dario Marianelli, aos figurinos de Michael O’Connor indicados ao Oscar 2012 e à fotografia do brasileiro Adriano Goldman.
A personagem que dá título ao filme (interpretada por Mia Wasikowska) é uma órfã criada pela tia (Sally Hawkins), num ambiente familiar em que ela é completamente desprezada e no qual possui um péssimo relacionamento com seu primo (Craig Roberts). Enviada para estudar em um colégio que forma as meninas para serem governantas, é esse o ofício que Jane aprende. E é assim que ela passa a ser alguém abnegada e que aprende a engolir as suas vontades em prol da realização do desejo dos outros.
É bom prestar atenção, no filme, ao momento em que Jane se sentirá plenamente e completamente realizada: quando ela arruma um emprego em Thornfield Hall, sendo a tutora da jovem Adèle (Romy Settbon Moore), menina criada pelo aristocrata Rochester (Michael Fassbender). No período em que passará nesse local, Jane viverá novas experiências que a ajudarão no seu processo de amadurecimento; descobrirá o amor e aprenderá a escutar a si mesma, de forma a ela poder buscar a sua felicidade e aquilo que ela mais deseja em seu íntimo.
Como uma Elizabeth Bennet, Jane Eyre é uma grande heroína romântica e “Jane Eyre” trata do seu processo de transformação, perfeitamente representado por um diálogo que a personagem troca com Rochester num dos momentos mais fortes do longa: “Eu vivi uma vida plena aqui. Eu não fui pisoteada ou ignorada. Eu não fui excluída de tudo aquilo que é mais belo”. E, no final, essa é uma obra sobre se ter coragem para seguir adiante, para perdoar os erros passados, para se ter a humildade – e a sabedoria – de oferecer o outro lado, especialmente àqueles que mais nos fizeram sofrer. E, para isso, é preciso a abnegação e o senso de observação que Jane tem de sobra!