Desbravadores
por Lucas SalgadoCom apenas 33 anos, o americano Damien Chazelle já se colocou dentre os grandes nomes da direção cinematográficas dos últimos tempos. Em sua curta carreira, ele realizou obras como Whiplash - Em Busca da Perfeição e La La Land - Cantando Estações, recebendo três indicações e uma estatueta do Oscar. Agora, chega com seu mais novo trabalho, O Primeiro Homem, e promete entrar de cabeça na temporada de premiação.
Em seu novo longa, Chazelle deixa de lado o mundo da música, mas não abandona uma característica comum das obras anteriores: protagonistas masculinas focados, ambiciosos e, principalmente, dispostos a seguir seus sonhos.
Estrela da La La Land, Ryan Gosling volta a trabalhar com o cineasta. Agora, o astro vive ninguém menos que Neil Armstrong, astronauta conhecido por ser o primeiro homem a pisar na Lua. Chazelle relata a história de vida de Neil, focando em sua família, mas principalmente na carreira como engenheiro e astronauta da Nasa.
Ainda que a história pessoal de Armstrong possa não ser inteiramente conhecida pelo grande público, o filme tem logo de cara um grande desafio: como contar uma história que todo mundo sabe como termina? Sabemos que Neil pisou na Lua. E voltou são e salvo. Como prender a atenção do espectador diante disso? Pois bem, o diretor e o roteirista Josh Singer tratam de não fazer um filme sobre corrida espacial. A chegada à Lua é o objetivo, mas a trama não se resume a isto.
Além disso, não se trata apenas do que contar, mas também de como contar esta história. Chazelle, com a ajuda do montador Tom Cross e do diretor de fotografia Linus Sandgren, cria uma verdadeira experiência sonora e visual. Como poucas vezes na tela grande, o espectador pode experimentar um pouco da sensação de fazer parte de uma equipe de astronautas. Neste sentido, cabe ressaltar também o trabalho de desenho de som e mixagem. Se Dunkirk saiu do Oscar 2018 com os prêmios sonoros, é difícil imaginar que o mesmo não aconteça com O Primeiro Homem no ano que vem. Os dois filmes, por sinal, tem muito em comum no que diz respeito à sensação de imersão que passa para o público.
A fotografia de Sandgren opta por sempre que possível aproximar a câmera ao máximo dos olhos de seus personagens. Ajuda não só na tentativa de passar emoção, mas também para aproximar o público dos personagens em cena. E aí não apenas de Niel em sua jornada para a história da humanidade, mas também de sua esposa, vivida por Claire Foy, que tenta manter sua família em um ambiente estável, mesmo diante do fato do marido estar num emprego que pode lhe tirar a vida a qualquer momento.
Geralmente acusado de ser inexpressivo, Gosling faz um belo trabalho em cena, passando emoção, mas também passando a frieza necessária para um homem em sua posição. No lado sentimental, a atuação de Foy acaba chamando mais atenção, com a atriz tendo pelo menos dois momentos para brilhar.
First Man (no original) é uma verdadeira experiência sensorial. É interessante como o filme opta por, na maioria das vezes, focar as cenas do lado interno dos foguetes espaciais. Há sim os clássicos momentos de contemplação dos filmes passados no espaço, mas há principalmente a tentativa de mostrar a insanidade e o risco de tais empreitadas.
Trata-se de uma obra sobre desbravamento, fixação e sonho. E sobre olhar o mundo sob uma nova perspectiva. Em 2018, é interessante notar como "tentar ver o mundo de forma diferente" ainda é uma ideia que cativa nossos corações e mentes. É uma produção sobre heroísmo, mas não sobre heróis.
Filme visto durante o Festival de Toronto, em setembro de 2018