‘O Cavaleiro Solitário’ e
sua máscara simbólica
Filme de Gore Verbinski une drama, humor, ação e aventura enquanto expõe abismo entre teoria e prática na aplicação da lei onde esse conceito é ignorado
Injustiçado. Pode-se dizer que ‘O Cavaleiro Solitário’, de Gore Verbinski, foi injustiçado. Grande parte da crítica massacrou a produção e muito se comentou a respeito da discrepância entre valores investidos e audiência conquistada. Mas o fato é que o filme com Johnny Depp (em mais um de seus tantos papéis exóticos) não é digno de tanto massacre.
A química entre o personagem de Depp, o índio Tonto, e o de Armie Hammer, o advogado John Reid, é cômica o suficiente para “elevar a cotação” da película. Também há espaço para drama, ação e aventura em um contexto que envolve exploração de prata, conflitos com indígenas e expansão da malha ferroviária pelos Estados Unidos. “Desde o tempo de Alexandre, o Grande, nenhum homem andou mais veloz do que o cavalo que o levava”, expõe um dos personagens, referindo-se ao trem. “Quem controlar os trens controlará o futuro; terá um poder que faz imperadores e reis parecerem bobos”, prossegue ele, concedendo uma ideia dos interesses que esse “poder” pode suscitar.
O filme conta as origens de John Reid, personagem criado por George Washington Trendle, na década de 1930, no rádio. Formado em direito, ele retorna à sua cidade natal, Colby. O advogado não demorará a perceber quão abismal é o distanciamento entre teoria e prática quando o assunto é a aplicação da lei em terras onde esse conceito é simplesmente ignorado. Dessa situação nasce a forte simbologia da máscara emblemática do protagonista.
Ao acompanhar o irmão Dan (James Badge Dale) e outros companheiros em uma patrulha pelo deserto, o grupo é atacado pelos capangas de Butch Cavendish (William Fichtner), criminoso famoso por consumir a carne de seus desafetos. Todos são assassinados, com exceção de John, que fica à beira da morte. Unido a Tonto, ele passa a perseguir Cavendish.
‘O Cavaleiro Solitário’ põe em suspenso o conceito de justiça, provoca indignação, faz rir e chama atenção nas cenas de ação. Não é pouca coisa. Pode até não ser considerado um primor digno de entrar para a história do cinema. Mas tampouco é merecedor de tanto repúdio.
Minúcias
Detalhes pedem
atenção do público
‘O Cavaleiro Solitário’ traz a dobradinha Verbinski/Depp que funcionou muito bem (sobretudo em termos comerciais) nos três primeiros filmes da série ‘Piratas do Caribe’ e na animação ‘Rango’. As cenas são bem cuidadas e os detalhes exigem da atenção dos espectadores, detalhes que vão desde o reflexo de uma cena brutal no olhar de John Reid até o movimento de câmera que demonstra o que Cavendish tirou da personagem de Helena Bonham Carter.