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    Drive
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Drive

    Amor brutal

    por Lucas Salgado

    São muitos os filmes com muito conteúdo e nenhum estilo ou vice-versa, mas são poucas as produções como Drive. Dirigido pelo cultuado Nicolas Winding Refn, premiado no Festival de Cannes pelo trabalho, o longa é justamente o raro exemplo de obra com muito estilo e muito conteúdo.

    Drive é uma espécie de Bullitt do século XXI. Não por causa da história ou da estética, mas pelo cartaz, que é uma referência clara, e pela presença em cena de Ryan Gosling, que tem um quê de Steve McQueen, embora já tenha se mostrado um ator ainda mais versátil que o astro falecido em 1980.

    A história gira em torno de um motorista (Gosling) que trabalha como mecânico e dublê em filmes de Hollywood, enquanto que à noite presta serviços menos convencionais. O sujeito começa a passar algum tempo com a vizinha Irene (Carey Mulligan) e o filho dela, mas vê sua "nova família" ser abalada com a chegada do marido da jovem, que estava preso (Oscar Isaac).

    O motorista acaba desenvolvendo uma relação próxima com o tal marido e vai ao seu socorro quando se envolve em problemas com a máfia. A trama é simples e tem como ponto alto justamente o bizarro, mas existente, código de conduta que envolve o personagem de Gosling. Ele se mostra envolvido com Irene, mas mesmo assim ajuda o marido dela quando este precisa, não surgindo em nenhum momento como um antagonista ou "destruidor de lares".

    O longa conta com momentos de muita ação e outros de muito romance, mesmo que platônico ou simbólico. Mas o melhor é que Drive conta com cenas que reúnem os dois elementos, como a que acontece dentro de um elevador, que é uma das grandes sequências do cinema nos últimos anos.

    Baseado em livro homônimo de James Sallis, o filme conta com uma excepcional trilha sonora de Cliff Martinez, grande parceiro do diretor Steven Soderbergh. A trilha tem uma batida constante e interessantíssima, e só falha ao retratar o primeiro encontro entre os personagens de Gosling e Mulligan. Através da música, a cena praticamente força o espectador a entender que rolou um clima entre os dois, quando poderia usar de artifícios melhores para isso.

    Outro destaque da produção é a fotografia de Newton Thomas Sigel, que nem parece o mesmo sujeito que realizou os convencionais Operação Valquíria e X-Men - O Filme. A cinematografia é deslumbrante, trazendo momentos belíssimos recheados de flares de lente em tomadas de contraluz. Os enquadramentos também são merecedores de aplausos, como aquele que mostra o motorista e Irene nos bancos da frente do carro e o filho dela no de trás através do retrovisor. Outra tomada interessante é quando vemos Muligan em cena, Gosling no reflexo de um espelho e o marido e o filho dela através de uma fotografia. Com o truque, podemos ver os quatro personagens principais em um mesmo take.

    Escrito por Hossein Amini (Killshot - Tiro Certo), em seu melhor trabalho, Drive é uma obra muito emocionante e que consegue manter um ritmo surreal. Não existem quedas, o longa mantém um ritmo lá em cima durante todos os seus 100 minutos de duração. O dinamarquês Nicolas Winding Refn abusa dos tons avermelhados, dos cortes brutos e de uma violência súbita e radical, tornando marcante toda a experiência como espectador.

    Trata-se de uma obra silenciosa (são poucos os diálogos, em especial do protagonista), mas que, por outro lado, faz questão de fazer barulho. O elenco, que conta ainda com as presenças de Bryan Cranston, Albert Brooks, Ron Perlman e Christina Hendricks, está sensacional.

    Brooks e Perlman, por sinal, são os vilões principais da história. E um dos méritos do longa é retratá-los de formas bem diferentes. O primeiro não é transformado em vilão logo de cara, embora seja claro que tem muito de obscuro. Já o segundo se mostra mais um antagonista truculento clássico.

    Drive tem muita ação, mas também uma honra toda especial que dá um clima valioso. O personagem de Gosling tem um pouco de samurai e muito dos brucutus de faroestes. O final, inclusive, parece muito inspirado no clássico Os Brutos Também Amam, título que por sinal é perfeito para definir o tal motorista.

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